Mais uma semana que temos a triste notícia de mortes em decorrência das chuvas e deslizamentos, dessa vez na cidade de Petrópolis. Vidas ceifadas, famílias que perderam tudo que tinham, que nem ao menos tiveram tempo de salvar seus próprios animais de estimação, comércios destruídos. Mas como bem disse o jornalista Leonardo Sakamoto, esses acontecimentos não podem ser considerados apenas como tragédias naturais. São um problema de política.
A questão das moradias em áreas de risco é conhecida pelo poder público. Faltam ações efetivas na prevenção. Também não adianta realizar um atendimento pontual para retirar as famílias e fazê-las esperar anos por uma solução. Muitas acabam voltando para a área de risco.
Por aqui tivemos a entrega dos primeiros apartamentos do Conjunto Habitacional Ponte dos Remédios. Empreendimento muito aguardado e que passou por vários imbróglios ao longo dos anos, com inúmeras postergações. No ano passado o prédio chegou a ser ocupado por pessoas que não eram as selecionadas para receber as unidades, mas que igualmente estão na fila da habitação por muito tempo.
Nada justifica termos ao mesmo tempo na cidade um déficit habitacional de mais de 470 mil moradias, uma população de rua que cresceu 31% nos últimos dois anos, o que representa 31.884 pessoas, e tantos imóveis vazios, embargados ou subutilizados e projetos de habitação que demoram para avançar. Temos acompanhado os projetos da região, como a Operação Urbana Consorciada Água Branca e o PIU Leopoldina. Na Lapa de Baixo, o terreno onde hoje funciona o Pátio de Compostagem dará lugar a moradias da PPP da Habitação. Entende-se a urgência da habitação, mas avançar com esse projeto e perder outro de grande importância não faz sentido. Políticas sociais e de sustentabilidade devem andar juntas.
E se é previsível que em tempos de chuvas tragédias podem ocorrer para quem está vulnerável, também é de se esperar que jogos envolvendo muita emoção vão causar transtornos para os vizinhos de um estádio. Na “melhor das hipóteses”, barulho e sujeira. Na pior, morte na frente de casa, como ocorreu no último sábado. Embora os agentes de segurança estivessem mobilizados em uma grande operação no dia, a fatalidade não foi evitada. Mais jogos virão e com eles novos episódios de conflito. Planejamento será necessário.
Para quem está desanimado com a política, que deixou de acreditar em qualquer partido, que entende a gestão pública apenas como uma instituição para arrecadar impostos, não se engane. Tudo é política e participar de sua construção é essencial para evitar, ou ao menos minimizar, as tragédias.