Vivemos um tempo de anacronismos pelo mundo. Uma guerra com a convocação de 300 mil reservistas e menção ao uso de armas nucleares. De todos os retrocessos, ter um clima de Guerra Fria em 2022 não estava nos planos. E também o caso estarrecedor da morte de uma jovem iraniana de apenas 22 anos por uma “polícia da moralidade”, afinal ela não estava usando seu hijab, o véu islâmico, da forma considerada correta. Se para a nossa cultura isso parece (e é) o maior dos absurdos, é muito delicado discutir moralidade quando esse termo tem ganhado conotações igualmente preocupantes por aqui. Para quem gosta de teatro, esse é o tema da peça que está em cartaz no Sesc Pompeia. A nossa capacidade de dialogar com o outro, o diferente, o “bárbaro” e, ao fazer isso, criar uma sociedade mais inclusiva e democrática.
E se falamos em democracia, não posso deixar de mencionar as eleições que se aproximam e as propagandas que mostram recortes do passado e do presente que não são exatamente fiéis. É um verdadeiro delírio dizer que estamos no nosso melhor momento. Também é errado negar problemas que tivemos. Falta ética e rigor na transmissão de informações. Em todos os lados.
E nem precisa ser alguém que acompanha a política para saber que os dados não batem com a realidade. Se fala em investimentos em segurança, mas a sensação que temos é justamente a oposta. Assaltos dentro de supermercados, roubos e furtos diários de trabalhadores no percurso que fazem do escritório até o metrô. Arrastões em comércios de rua. Isso falando apenas da nossa região.
Tem também candidatos querendo se promover na pauta da saúde, falando dos avanços que sua atuação proporcionou, mas na prática ainda estamos com uma rede que precisa de melhorias. O SUS é um formato que deixa muitos turistas que vem ao Brasil com inveja, e nossa meta deve ser a de fazer com que ele cumpra tudo aquilo que propõe. O Hospital Sorocabana foi utilizado como propaganda eleitoral na campanha passada, tendo sido reativado parcialmente. Ter poucos andares em funcionamento é melhor do que nenhum? Sim, mas faltam esclarecimentos sobre os próximos passos, a perspectiva de reforma e investimentos e, principalmente, que ele atenda os moradores da região. Boa parte dos vizinhos têm condição de ter um plano de saúde privado, mas não podemos abrir mão de um recurso fundamental para todos. O objetivo, como sociedade, é que todos utilizem os serviços públicos e que eles tenham qualidade. De nada adianta reclamar que se paga muitos impostos que deveriam ser gastos com saúde, educação e segurança e simplesmente não conhecer a realidade dos equipamentos que recebem essas verba.