Com certeza, uma das experiências positivas que marcaram minha infância, e a de toda uma geração que cresceu nos anos 70, foi poder curtir a rua com liberdade, brincando nas calçadas. E isso em muito contribuiu para fazer de mim o ser humano que sou hoje – aberto, apegado à convivência com outras pessoas, que gosta de passear ao ar livre; e totalmente desapegado do contato virtual, via redes sociais (o que, aliás, abomino, a não ser pela praticidade de resolver as questões de trabalho…).
A amarelinha, o pega-pega, esconde-esconde são brincadeiras que têm o poder de desenvolver o equilíbrio físico e a inteligência. Ajudam as crianças a aprender regras, traçar estratégias, respeitar limites. Algo que o convívio solitário com o celular acaba barrando e vai, aos poucos, minando.
O brincar na calçada, talvez, tenha feito de muitos de nós – os ‘tios’ e ‘tias’ de hoje – pessoas menos reclusas, menos depressivas. E, sem dúvida, mais sociáveis. Por tudo isso nós, aqui da Página Editora e do Jornal da Gente, aplaudimos e apoiamos o projeto ‘Calçadas Brincantes’, iniciativa do Instituto Noa e do Programa Escolas do Bem.
A proposta de reunir as comunidades para pintar jogos e brincadeiras nas calçadas, no entorno das escolas que fazem parte do Programa Escolas do Bem, estabelecendo um dia para que as crianças (e seus pais, por que não?) se apropriem desses espaços brincando juntas, tem o poder transformador de chamar uma geração fechada em si mesma e em quatro paredes para uma experiência libertadora.
Com opções de atividades que vão muito além da tradicional amarelinha, as calçadas brincantes se transformam em importantes instrumentos de aprendizado lúdico, com desafios que envolvem números, cores, formas geométricas e o alfabeto, trabalhando, assim, todos os sentidos das crianças e colaborando em aspectos fundamentais de seu aprimoramento físico e intelectual.
Além disso, a iniciativa se propõe a formar cidadãos mais engajados com o local onde vivem, estimulando o viver a cidade, o brincar ao ar livre, fora dos muros, para que as crianças sintam que pertencem a um bairro, a uma comunidade.
No fundo, como bem diz a idealizadora das Escolas do Bem, Lucy De Miguel, é algo que parece brincadeira, mas não é. Trata-se de um propósito bem fundamentado e ambicioso que, se for levado adiante, pode mudar o país!