Em uma cidade movimentada e caótica como São Paulo, a poluição sonora deixou, faz tempo, de ser tão somente uma questão de perda auditiva e ganhou proporções bem maiores, passando a ser considerado um grave problema de saúde pública. Este alerta, feito pelo físico especialista em ruído e pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) Marcelo Aquilino, é comprovado por estudos que relacionam a exposição a níveis elevados de ruído não só à perda auditiva, mas a alterações cardiovasculares e endócrinas, prejuízos psicológicos e cognitivos e liberação dos chamados hormônios do estresse.
Portanto, é mais do que justa a luta dos moradores do entorno da Arena Allianz Parque pela diminuição dos escandalosos níveis de ruído produzidos pelos megaeventos realizados no estádio. Pelo menos durante os dois últimos anos, quando houve um aumento no número de shows na arena, a população que mora no entorno passou a não conseguir dormir em vários finais de semana, além de ter problemas de barulho durante o dia e em dias de semana por conta dos ensaios e passagens de som dos músicos.
Um avanço no sentido de minimizar esses transtornos e devolver o sossego à população local vem justamente de um extenso e minucioso relatório, produzido pelo IPT a pedido do Ministério Público e contratado pela empresa que administra o Allianz, que propõe formas de mitigar o ruído produzido na arena em dias de show.
O estudo comprova algo que fica óbvio quando se olha para a arquitetura da arena: com sua imensa estrutura vazada de metal, o Allianz Parque definitivamente não foi projetado para receber megashows de música, já que o material usado para a construção do estádio não é capaz de conter a propagação de tamanha explosão sonora. Sendo assim, além do grande investimento em reformas estruturais que evitem o vazamento de ruído em níveis muito acima do permitido em dias de show, será necessária a boa vontade das produtoras de eventos para adequar o volume da aparelhagem de som e a disposição das caixas acústicas de forma a evitar que todo o som escape pela área não coberta do estádio.
E não é só isso. O relatório do IPT ressalta que como a frequência da exposição ao ruído é algo determinante para torná-lo prejudicial à saúde humana, não é mais admissível que a agenda do Allianz continue a comportar os cerca de 40 megashows realizados em 2023.
O bom senso, então, terá que prevalecer. Não podemos mais admitir a falta de limites no uso da Arena Allianz Parque!