O legado de Adriano

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Como moradora da Leopoldina, estou chocada com uma cena de violência que chegou até mim, na última quinta-feira, 6, reproduzida nas redes sociais do bairro. O caso foi publicado em uma reportagem do programa Balanço Geral, da TV Record, e, de forma geral, revoltou a população da região. Nos vídeos enviados à emissora pelos moradores, um cantor de nome Adriano, que costuma se apresentar de forma itinerante em frente aos condomínios da Leopoldina, aparece sendo covardemente agredido por um condômino irritado com o “barulho” da música. Extremamente nervoso, Bruno, o morador, destrói a caixa de som e o microfone que o artista usava para fazer seus pequenos shows, ameaçando, em seguida, bater em Adriano.
Atitudes descontroladas como esta, diante de uma simples apresentação musical que ocorria no início da noite e era aplaudida por muitos vizinhos, infelizmente são comuns não só por aqui, mas na cidade como um todo. E chocam porque explicitam uma intolerância fora do comum de pessoas que, vale lembrar, há pouco tempo atrás sofriam com o isolamento imposto pela pandemia de Covid-19. Durante aquele longo e triste período, as várias apresentações de cantores itinerantes que aconteceram pelo bairro representavam um grande alento para nós, moradores, que das janelas de nossos apartamentos tínhamos a chance única de interagir e esquecer um pouco a solidão.
Bruno, muito provavelmente, teve a oportunidade, já morando aqui na Leopoldina ou em qualquer outro lugar, de presenciar algumas dessas apresentações, que se tornaram comuns por toda a cidade. Mas, mesmo assim, não foi capaz de ser sensibilizado positivamente por elas, demonstrando uma personalidade antissocial e egoísta que, especialmente após a experiência da Covid, deveríamos nos esforçar em afastar.
Na vida estressante que levamos, tudo parece incomodar: o barulho de um caminhão que passa à noite, o cachorro que late na rua, o choro da criança e até o toc toc do sapato de salto da vizinha de cima quando anda pela casa. E controlar o impulso de tomar uma atitude mais extrema diante desses pequenos incômodos cotidianos parece estar cada vez mais difícil…. Mas se temos que viver em comunidade, é preciso cultivar a tolerância, algo que os muitos “Brunos” da vida, mesmo após terem passado pela experiência traumática do isolamento social, ainda não aprenderam.
Então, que o cantor Adriano nos deixe como legado mais do que sua boa música. Que seu caso, embora triste, nos faça refletir sobre a importância e a beleza de conviver!

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