Vendo que Getúlio se aboletava no Catete e estava copiando o populismo trabalhista de Mussolini, os paulistas começaram a protestar e uma passeata, de estudantes de direito e povo, foi metralhada na Praça da República. Morreram quatro moços: Márcio, Miragaia, Dráuzio, Camargo (M.M.D.C). Estourou a Revolução Constitucionalista de 32! Durou três meses! Houve lutas e mortes e finalmente o armistício. A Constituinte foi convocada em 33 e a nova Constituição saiu em 34, com Getúlio eleito Presidente, por quatro anos, pelo Congresso … (!?) Dois paulistas foram seus ministros!
Enquanto isso, eu andava nos meus três anos de idade e tinha longos cachos loiríssimos, que me aborreciam. Morávamos na Chácara do Portão Vermelho, que, nos fundos, tinha o ribeirão de fundo preto, mas de águas límpidas, onde minha mãe lavava roupa e eu meus irmãos brincávamos por ali…
Da nossa revolução eu não me lembro. Só sei que o tio Nico queria alistar-se. Minha mãe e meu pai deram suas alianças para São Paulo, trocando-as por outras de prata, onde estava escrito: “Dei ouro para São Paulo”. Duma coisa eu lembro: alguém disse, brincando: “vamos cortar os cachos do Nerito! Vamos ajudar São Paulo!” Sei que senti um orgulho enorme e uma sensação de alívio daqueles cabelos compridos, que, muito depois, seriam a marca da revolução “Beatles” (Ha! Ha!)… Por muito tempo vi a aliança de prata da minha mãe, totalmente enegrecida e só com uns restos do vidrilho vermelho do fundo! Outra lembrança concreta da revolução foi a explosão de um dos vãos da ponte sobre o rio Pardo: “Por aqui não passarão!” Por anos, vi essa ponte rebentada. Por ali ficava o sítio do tio Ângelo, que tirava areia do fundo do rio, em barcaças. Já homem, ganhei de um amigo uma baioneta antiga que teria sido de um soldado constitucionalista. Doei-a para o Museu do Colégio Santo Ivo. Era autêntica.
Oh! Meu São Paulo de 32! Você mostrou que a coragem é melhor que a covardia, que enfrentar é melhor do que fugir, que a liberdade é melhor do que a opressão, que temer e tremer é pior que não se erguer e lutar e, talvez, morrer…