Albion era terra e só tinha residências

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Lapeano de raízes, Júlio César Pasquini é um descendente de italianos que nasceu em uma casa na esquina da Rua Albion com a antiga Anastácio, hoje Nossa Senhora da Lapa, em maio de 1940. “Antigamente os partos eram realizados em casa, a mulher não ia para a maternidade como hoje”.
Pasquini se recorda ainda que na época de sua infância a rua era de terra e só tinha residências. “Eu lembro que no final da Segunda Guerra Mundial, o governo pedia para a gente colocasse pano preto nas janelas. Era para que se algum avião passasse, não avistasse a claridade de dentro de casa. Lá de cima eles iam ver tudo escuro. Era uma maneira de se prevenir contra um possível ataque. Ao contrário de outros países europeus, como a própria Itália, nada aconteceu no Brasil. Só mandamos soldados para a guerra”, disse.
Mas, para seu pai, Césare Pasquini, que era italiano e tinha um restaurante no centro da Cidade, o período foi traumático. “Ele escondia sua origem até dos clientes, por precaução”, lembra o morador, acrescentando que até o Clube Palestra Itália teve o nome mudado para Palmeiras, na época da guerra.
Pasquini morou na esquina da Albion até os cinco anos, quando a casa da família ainda era térrea. “Depois, em 1946, meu pai começou a construir o prédio”, relata.

Amor ao bairro

No período da construção, em 1946, a família teve de se mudar para outro endereço, primeiro no Pacaembu e depois para Santos, mas um ano depois, com o imóvel já pronto, os Pasquini voltaram para seu local de origem, a Albion. “As brincadeiras iam até as dez horas da noite, não tinha violência”, conta.
De sua mocidade, o que mais marcou foram os finais de ano, quando o Clube dos Lojistas enfeitava a Doze de Outubro e suas travessas, para as festas de Natal e fim de ano. “Ficava muito bonito. Tudo era feito em conjunto com os comerciantes. A decoração ficava até o carnaval, quando vinham várias escolas de samba. Era muito bom”, declarou o morador.
Depois ele se casou e continuou morando no mesmo lugar, onde viu suas duas filhas nascerem.
Já na sua segunda união, ele morou por três anos na Vila Carrão, onde nasceram dois filhos. Mas suas raízes lapeanas falaram mais alto, Pasquini voltou (1979) com a família para a Albion, onde mais uma filha nasceu. “Não troco o bairro por nenhum outro. Eu morei na Vila Carrão mas não me adaptei. Os vizinhos são diferentes. Aqui a gente se conhece. Às vezes encontro amigos e a gente fica horas conversando sobre o passado”, finaliza Pasquini.

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