EDUARDO FIORA
Na Leopoldina, Lapa e Jaguaré – as três grandes áreas de circulação desta publicação – em grau maior ou menor existe um fenômeno comum, que interfere diretamente na qualidade da vida cotidiana: a verticalização.
Outro dia, navegando pela Internet em busca de informações sobre o processo de crescimento horizontal nos bairros paulistanos encontrei uma bela crônica de um antigo colega jornalista, de texto impecável, falando justamente do seus descontentamento em ver a região da lapa ocupada por grandes empreendimentos. Num trecho de seu desabafo publicado no portal AOL, Luis Antonio Giron dizia o seguinte: “O que acontece hoje no Brasil com os prédios é a outra face da destruição da Amazônia e das reservas naturais. Assim como se abatem árvores para colocar pastagens áridas, a nova geração de empreiteiros, construtores e arquitetos das megalópoles não está interessada em projetos sociais e de qualidade de vida. Querem ganhar dinheiro às pressas, e que as gerações futuras vão para o inferno. Não se respeitam mais gabaritos, zonas residenciais, o cidadão é invadido em sua privacidade, os bairros antigos estão tombando em nome da ‘nova tendência’, a verticalização. Até os cemitérios estão sendo verticalizados, em breve São Paulo vai se parecer com Tóquio, onde há hotéis que oferecem hospedagem em gavetas climatizadas. Continuo achando casa térrea a melhor invenção dos urbanistas. E já estou me preparando para mudar de novo, para mais longe, para algum lugar com árvores – até o dia em que São Paulo não terá mais mananciais e áreas verdes. O que sobrará de todos nós? Quero estar do outro lado da minha antiga rua para não saber”.
A inquietação de Giron faz sentido. E para os teimam, como eu, em fixar residência nos bairros que se verticalizam, ela surge como uma oportuna reflexão. Na semana que passou, conversei com um dos mais renomados urbanistas brasileiros, o arquiteto Jorge Wilheim, ex Secretário de Planejamento na gestão Marta Suplicy. Para ele, de todas as operações urbanas em andamento ou em estudo, a mais premente é justamente a da Leopoldina/Jaguaré, dada a magnitude da transformação que ocorre nesse bairro. As linhas traçadas nessa Operação, transformam radicalmente a região, e, de certo, dariam alento ao desconsolado amigo Giron.
Cabe às comunidades não só da Leopoldina ou Jaguaré, mas também de outros bairro, interagirem, democraticamente, com o poder público e com urbanistas, que como Wilheim, já passaram por órgãos oficiais. Só assim, estaríamos perseguindo, de fato, qualidade de vida no local onde moramos.