UBIRAJARA DE OLIVEIRA DIRETOR
Há quem diga que o brasileiro é movido pela paixão. Um povo alegre que faz do esporte uma festa, vai à loucura com o seu time do coração e ostenta orgulhoso seu uniforme, na vitória ou na derrota. Vibra com o Guga, com a Daiane, com o Valdomiro, com o Barrichello, com os meninos e as meninas do vôlei. Tem sempre uma camiseta de alguma campanha para exibir na descontração do fim de semana. É também apaixonado pela sua marca predileta de cerveja, sendo até capaz de discutir horas justificando sua preferência.
Exibe orgulhoso sua marca eleita de tênis, de relógio, do jeans, propaga seu perfume, fala do seu carro, do som do seu carro…
Curiosamente, raramente você encontra alguém ostentado com o mesmo orgulho, com a mesma pose, com a mesma paixão, a camiseta, o bóton, ou empunhando a bandeira do seu candidato escolhido para votar nas próximas eleições. Exceção, antes que alguém se lembre, dos cabos eleitorais recrutados e pagos para esta finalidade, que também, é bom que se diga, estão sempre dispostos a mudar de lado desde que se pague mais.
Por que razão temos tanta vergonha de se envolver apaixonadamente pela política?
Será por comodismo, por preconceito, por desilusão ou por ignorância e intolerância?
Porque, segundo a filósofa alemã Hannah Arendt, “a política trata da convivência entre diferentes”. Para ela, o sentido da política é a liberdade.
É por gozar de liberdade que as pessoas podem livremente realizar suas escolhas, definir suas preferências e se posicionar como pertencentes a um grupo. E uma sociedade só pode ser entendida pela observação de como essa identificação com determinados valores e práticas se concretiza na ação cotidiana.
Esse papel estruturador da sociedade não cabe ao Estado. Esse papel cabe ao cidadão, porque a característica da democracia é justamente ligar entre si livremente os homens e não religar por dentro, com faz a religião ou os movimentos alimentados pelo fanatismo ou sentimentos como o ódio.
Do que temos vergonha então? Possivelmente de nossas escolhas. Talvez medo de assumir responsabilidades em função de nossas escolhas. Ou talvez a vergonha tenha como fonte as razões que motivaram as nossas escolhas. Da política não pode ser!
Para finalizar, e, como proposta de reflexão, cito Cícero: “Se os homens de talento e de caráter se mantiverem distantes da política, não poderão reclamar contra o fato de serem obrigados a obedecer a autoridades de pouco talento e de pouco caráter”. A propósito, Cícero viveu no período de 106 a 43 a.C. e foi um dos mais brilhantes oradores do Senado Romano, ou seja, um político.