Localizado na Avenida Imperatriz Leopoldina desde 28 de maio, o albergue atende perto de 200 moradores de rua, que vivem principalmente nos arredores da Ceagesp. A iniciativa é o resultado da parceria entre o Instituto Rogacionista Frei Aníbal Di Francia e a Secretaria Municipal de Assistência Social (SAS-Lapa). Este espaço causa polêmica entre os comerciantes do bairro, que se sentem desconfortáveis com a implementação do projeto social no meio de uma área comercial.
Perto de dez empresários estiveram reunidos com o subprefeito da Lapa, Adaucto José Durigan, e com o responsável pelo Rogacionista, o padre Ângelo, para debater o transtorno provocado pela concentração de moradores em frente aos seus estabelecimentos comerciais. “Não temos nada contra o trabalho social desenvolvido para auxiliar essas pessoas. O problema é a localização deste albergue, que constrange os clientes das lojas e os freqüentadores dos restaurantes da Imperatriz Leopoldina”, disse um comerciante, que não quis se identificar. Ele lembrou que muitos pedem esmolas, entram nos recintos, incomodam os consumidores, complicando os negócios.
Durigan respondeu que o imóvel de três andares na avenida é o mais adequado para a assistência aos excluídos, sendo também o único em que o proprietário concordou em locar para esta finalidade social. “Foi necessário um ano de procura para encontrar este espaço. A maioria dos donos da região não aceita alugar sua casa para ser ocupada por moradores de rua”, explica o subprefeito.
De acordo com as assistentes sociais da SAS-Lapa, Vera Maria Mattos e Ivone Fasanella, os excluídos já viviam circulando pela avenida, trazendo algum tipo de constrangimento. “O albergue não é o causador do problema da mendicância. Pelo contrário, é um trabalho social para o resgate da cidadania, com orientação e tentativa de recuperação de um mínimo de dignidade humana”, disseram em coro as integrantes da SAS-Lapa, que fazem o acompanhamento do trabalho do Rogacionista.
Segundo a coordenadora de assistência social no albergue, Juciara Sabino, 18 funcionários da entidade – entre assistente social, coordenadora, auxiliar, oito educadores, um cozinheiro, três auxiliares de cozinha e três na limpeza, além de dois homens da Guarda Civil Metropolitana – trabalham 24 horas ininterruptamente no local. “Aqui existem dois atenddimentos distintos: o Centro de Serviços na manhã, quando os 120 excluídos ficam durante o dia para limpeza de roupa, higiene pessoal e almoço, servido das 11 às 13h. Quem quiser jantar terá de dormir no albergue noturno, com capacidade para 80 vagas, que funciona das 20 às 8h. Quando acordam, eles podem tomar café-da-manhã”, destaca a coordenadora, acrescentando que 90% dos freqüentadores do espaço são formados por homens, na maioria trabalhadores em caixaria. Segundo ela, muitos deixam seus carrinhos estacionados em frente à casa, sem atrapalhar ninguém.
Juciara explicou que muitos têm problemas com alcoolismo, tóxico ou até esquizofrenia, mas os casos mais graves são encaminhados para o Hospital Dia ou ao Hospital das Clínicas. “Temos muitas histórias de vidas arruinadas pela crise. Um ex-metalúrgico, que ganhava 30 salários mínimos, atualmente é um dos freqüentadores deste lugar”, observa a assistente social.
“Não queremos entrar em conflito com nenhuma pessoa da região. Ao contrário, precisamos de parcerias e doações. Porém os comerciantes precisam entender a necessidade de atender minimamente o ser humano. A saída do albergue não resolveria o incômodo dos moradores de rua do bairro”, observa.
O único consenso das partes é a aposta de revitalização e melhoria de qualidade de vida na Vila Leopoldina, mas por caminhos diferentes.