A semana foi agitada. Em meio ao processo de impeachment do presidente da Câmara Federal e da presidente da República, a impasse sobre a reorganização escolar da rede estadual de Ensino dominou as rodas de conversas na região nos últimos dias.
Várias escolas – da tradicional Anhanguera na Lapa, Miss Browne na Pompeia e Di Cavalcanti no vizinho bairro de Pinheiros – permaneceram ocupadas por grupos de alunos contra o plano de reorganização do governo estadual (em ciclo único: Fundamental I, Fundamental II e Ensino Médio). A previsão era desativar 93 escolas para transformá-las em creches, Emeis ou Escolas Técnicas. Segundo o governo, o projeto traria melhoria nos indicadores educacionais. Com as ocupações, as aulas foram interrompidas. Estudantes contra a ocupação ficaram acuados, pais com medo de confronto impediram os filhos de manifestarem qualquer posição. Ficou de um lado os manifestantes e do outro a Secretaria Estadual de Educação, sem solução. Foram muitos protestos e reuniões. Essa semana, os manifestantes deixaram os prédios e tomaram as ruas com cadeiras escolares, obstruindo o trânsito para chamar, mais uma vez, atenção sobre o tema. Se a queda no número de alunos é tão grande nas escolas estaduais, a reorganização pode ser uma saída para a aplicação racional do dinheiro público na educação.
O plano de reorganização lembra o sistema de 30, 40 anos atrás, quando a educação era dividida em Primário, Ginásio e Colegial. E funcionava. Desses grupos escolares saíram muitos doutores, pesquisadores e jornalistas. Isso mostra que pode dar certo. O que falta é diálogo.
Na tarde de quinta-feira, o Ministério Público e a Defensoria Pública de São Paulo entraram com uma ação civil pública que pedia que a reorganização das escolas estaduais fosse interrompida e que a Secretaria de Educação organizasse uma agenda de discussões com a sociedade sobre as mudanças.
Sem conseguir reverter a situação, o secretário de Educação – defensor do plano de reorganização (em ciclos: Fundamental I, Fundamental II e Ensino Médico), Herman Woorvald, foi substituído pelo secretário da Casa Civil, Edson Aparecido nas negociações. Na manhã de sexta-feira, as notícias eram de protestos e confronto entre manifestantes e Policiais Militares somada a queda de popularidade do governador Geraldo Alckmin. Na manhã de sexta-feira, Edson Aparecido dava sinal de abertura de diálogo ao anunciar uma audiência pública para a próxima semana, no Memorial da América Latina. Quando o principal sindicato dos professores do Estado de São Paulo, a Apeoesp, estava em reunião para discutir a questão, o governador Geraldo Alckmin anunciou o adiamento da reorganização da rede estadual, mas alunos resolveram manter as ocupações nas escolas estaduais até o cancelamento da reorganização. Eles também querem cronograma de audiências públicas e punição aos policiais que agiram com truculência.
De tudo se tira uma lição. “Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre”, dizia o educador Paulo Freire. É verdade, aprendemos sempre. Tomara que tanto os alunos desocupem as escolas para que o processo de ensino seja retomado quanto o governo tenha apreendido a lição e mantenha o diálogo.