No final de 2017, a Prefeitura Regional da Lapa realizou a revitalização da Praça Ministro Olavo Bilac Pinto, no Alto da Lapa. Entre as melhorias estão o novo passeio, bancos, mesa, jardinagem e área de convivência. Carlos Fernandes, prefeito regional, falou sobre a importância da manutenção e ocupação dos espaços públicos. “Uma praça bonita, limpa, bem cuidada traz vida ao espaço público, atraindo as pessoas a utilizá-la. Além disso, traz um sentimento de pertencimento, onde a população passa a cuidar do que é seu. Isso é resgate da cidadania”, declara.
Mas além dos pedestres que passam pelo local e vizinhos que passeiam com seus cachorros, quem está aproveitando bastante o espaço são os idosos da casa de repouso Solar das Mercedes, vizinha da praça. O local é utilizado para banhos de sol, sessões de fisioterapia, fonoaudiologia, consultas médicas, piqueniques e festas de aniversário. “Ajuda muito a aumentar a interação social entre os pacientes e a equipe, em um espaço maior para se movimentar, fazer exercícios e também para fazer atividades integrativas, como cuidar das plantas”, afirma a fisioterapeuta da clínica Naira Salles, que começou a fazer trabalho voluntário na casa de repouso aos 13 anos.
A clínica que está no mesmo imóvel desde 1989 conta hoje com 32 residentes, muitos deles que passaram a vida inteira na Lapa e são fonte de muitas histórias sobre a região. “Quando vim para cá não tinha asfalto, supermercado, nada”, afirma Diva Felipe, de 81 anos. Já Therezinha Pacheco, também com 81 anos, lembra dos avós italianos que vieram construir sua vida no Brasil. “Meu avô tinha muitos terrenos aqui. Eles fizeram casas e elas foram divididas entre os nove filhos. Ele vendia capim para os cavalos das charretes”, conta. Ela recorda do bonde que passava pela Rua Doze de Outubro e dos diversos cinemas da região, como o Cine Tropical, na Rua Roma, e o Cine Nacional, na Rua Clélia. Lembra também que tinha que atravessar um córrego que passava pela Rua Tito com Francisco Alves diariamente para ir à escola.
Gilda de Michelucci, 91 anos, foi a costureira responsável pelo vestido de casamento de muitas lapeanas, e conta que muitas das festas eram realizadas no salão São Carlos, na Rua Guaicurus. Ela afirma que, com todas as qualidades e defeitos da região, não moraria em outro lugar. “Uma parte da Lapa cresceu e outra deteriorou. O respeito ao bairro deveria existir de todos os lados, alguns respeitam e outros destroem”, afirma.
Os proprietários Eunice Devecchi e Paulo Scripelliti empregam 30 pessoas e recebem muitos elogios de todos os residentes e dos familiares, como Teca Chacon, que mora perto da clínica e passa quase todos os dias na casa para visitar o pai, Antônio. “Eu coloquei aqui justamente pela proximidade, para poder vê-lo sempre”, diz. Porém, a casa de repouso leva três grandes multas todo o ano por falta de alvará. “É preciso entender que para os idosos é muito melhor ficar em um bairro residencial tranquilo, ao invés de uma avenida movimentada, com barulho e poluição dos ônibus”, afirma Paulo Scripelliti.
A casa de repouso aceita voluntários, especialmente aqueles que tiverem o interesse de conversar com os idosos, atividade que pode ser feita na praça recém-reformada. Uma ótima experiência para quem quiser conhecer as histórias dos anos iniciais da Lapa e sua evolução.