Nossos dias têm parecido monotemáticos. Qualquer um que olhar de relance para uma TV pode confirmar isso. Mas também não poderia ser diferente com um acontecimento mundial. Regionalmente, nos cabe abordar o impacto local de tudo isso.
Independentemente da Páscoa ser um feriado religioso com seus próprios motivos de celebração, simplesmente não há clima de feriado. A cidade que nunca para, mas que adora encarar uma estrada quando tem uma folga, não deve fazê-lo dessa vez.
Além da necessidade do isolamento social, há ainda a questão econômica. Muitas pessoas já foram gravemente afetadas pela Covid-19 ao perder seus empregos. Comerciantes sentem a abrupta queda nas vendas. Quem ainda está trabalhando ou tinha dinheiro reservado, está apreensivo sobre como será a situação do país nos próximos meses. Vai priorizar compras de necessidades básicas ao invés de gastar em almoços festivos em família ou ovos de chocolate.Algumas lojas querem salvar a data comercial e celebrar a Páscoa em junho. Teremos Páscoa e quermesses juntas?
E por falar em quermesse, as igrejas da região estão bastante familiarizadas com as redes sociais (que em um passado não muito distante eram chamadas de novas mídias, mas em tempos de notícias expressas e fake news por WhatsApp o conceito de “novo” é bastante efêmero. Deixemos isso para outro editorial). O fato é que as missas da Sexta-feira Santa e Páscoa estão garantidas, todas com transmissão ao vivo pela internet.
Mas queria falar do verdadeiro renascimento desta data. Em um ano normal, a Páscoa seria simplesmente um feriado que alguns celebram e outros trabalham. Mas nesse cenário de pandemia, o que mais tivemos durante a semana foram ações de solidariedade, de pessoas e entidades empenhadas em conseguir alimentos, materiais de higiene e limpeza para ajudar aqueles que são mais vulneráveis.
Estamos em isolamento social, mas o engajamento está bem forte. Seja nos panelaços quase diários, seja na luta pela reabertura do Hospital Sorocabana que ganhou novo fôlego. Nossas vidas mudaram para tentar evitar um colapso dos sistemas de saúde. Quem sabe se já tivéssemos o hospital aberto aqui, bem como mais equipamentos de saúde, talvez o sufoco fosse um pouco menor. Mais estrutura, mais capacidade de atendimento, menor necessidade de paralisação, menor impacto na economia.
A Páscoa é uma boa metáfora para tudo o que está acontecendo. Vamos renascer como sociedade e mudanças, como as de consumo, serão inevitáveis. Quanto antes isso for percebido por todos, melhor será. Ou menos pior. Feliz Páscoa!