Memória e solidariedade

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Um dos papéis dos jornais de bairro, e talvez seu diferencial, é poder contar histórias que nem sempre têm espaço na “grande mídia”. Porque as notícias urgentes são mostradas o tempo todo, em todas as telas. Mas descobrir personagens interessantes e preservar sua trajetória é algo que o mundo anda sem tempo de fazer.

Essa semana conheci um leitor muito especial, o Uyvão, que me apresentou o trabalho ao qual dedicou sua vida. Em tempos de GPS e buscadores, poucos sabem sobre a origem do mapeamento de uma cidade ou bairro, quando tudo era registrado e desenhado no papel. Pode ser que alguém diga que é retrógrado se apegar a documentos assim, mas há, além de beleza, grande valor histórico em preservar esses registros. Podemos encontrar praticamente toda a informação que desejamos na internet, mas muita coisa se perde, é adulterada ou perde profundidade. Ao contrário do trabalho analógico que era feito no passado. A história e o trabalho do professor Uyvão você confere nas páginas a seguir.

E se tem algo que pode ser considerado anacrônico, mas que também preserva um afeto raro nos dias de hoje é escrever uma carta. Fazer um trabalho de reflexão, selecionando as palavras que melhor expressam o que se quer dizer é quase estranho em tempos de mensagens instantâneas e figurinhas de WhatsApp. Escrever (ou fazer qualquer coisa manual com intenção) é para poucos. Uma vez me contaram uma história (que não consegui confirmar no mar de informações da internet) sobre uma tradição japonesa de fazer “estrelas da sorte”, um tipo de origami, para presentear. Além de ser um item decorativo bonito, as estrelas também representam o tempo e dedicação da pessoa que fez as dobraduras.

Voltando às cartas, eu tenho a sorte de receber algumas. E uma tradição de todo final de ano é a campanha realizada pelos Correios, de adoção de cartinhas de crianças que foram enviadas ao Papai Noel. Embora o espírito de solidariedade e confraternização seja válido para todos, o Natal sempre é mais mágico quando há crianças envolvidas. Tem pedidos com cara de presente de Natal mesmo, do videogame à bicicleta, mas algumas cartinhas são, ao mesmo tempo, emocionantes e desoladoras: roupas, comida, um emprego para os pais… Já vi esses pedidos em edições passadas e não sei se algo semelhante figurará esse ano. Dada a atual situação do país, creio que sim. Para quem pode, fazer o Natal de uma criança mais feliz com algo que não custará muito, vale à pena.

A pandemia revelou a solidariedade de muitas pessoas, empresas e entidades. Mesmo com o fim da crise sanitária, que esperamos seja logo, essa disposição para ajudar deve ser mantida. Vamos precisar.

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