José de Oliveira Jr. Repórter
Na última quarta-feira, o governador Geraldo Alckmin empossou os membros do primeiro Conselho Estadual dos Povos Indígenas, instância que promete ser a voz deste grupo étnico, muito injustiçado na História do Brasil. A dívida de 500 anos que o homem branco contraiu junto às nações indígenas começa a ser paga pela obstinação do sertanista Orlando Villas Bôas, morto em dezembro de 2002. O cacique branco do Xingu também recebeu uma justa homenagem no Parque da Água Branca. O sertanista estará em três milhões de selos lançados pelos Correios.
O evento, que fez parte das comemorações da Semana do Índio, não serviu apenas para agradecer os feitos de “Seu” Orlando. A cerimônia teve como objetivo mostrar o valor do índio para a nossa sociedade. Alckmin falou da importância do cacique Tibiriçá, no momento em que se uniu com o jesuí-ta José de Anchieta, para a fundação e segurança da cidade de São Paulo, há 450 anos. Entretanto, somente agora foi criado um colegiado, com ampla participação dos índios de todas as aldeias do Estado. O governador ainda reverenciou a língua indígena como fundamental para a formação do nosso idioma.
Num momento em que garimpeiros e índios travam um conflito em Espigão D’Oeste, em Rondônia, e os Guaranis invadem fazendas no Mato Grosso do Sul, reivindicando as terras dos seus ancestrais e os Macuxis de Roraima, da Reserva Raposa Serra do Sol (fronteira com a Venezuela), correm o risco de perder vastas extensões de terras a que têm direito, o ato de quarta-feira tem um valor simbólico de resistência a séculos de opressão. Os primeiros habitantes do continente americano, desrespeitados pelos colonizadores do Velho Mundo e marginalizados pela elite local, necessitam da nossa compreensão. A relação resultará num novo modelo de democracia e de sociedade.
O leitor pode achar que isso é um sonho. Mas, esteja onde estiver, Orlando Villas Bôas deve estar comemorando a pequena vitória, que, com certeza, será a primeira de muitas outras conquistas indígenas. O sertanista, que viveu na Lapa durante muitos anos, sempre ensinou a tolerância, como única forma de convivência possível entre culturas tão diferentes.
Também é digno de nota a participação do Camp-Oeste durante a cerimônia. Quebrando o protocolo, os alunos da entidade e do Programa Jovens Construindo a Cidadania (JCC) cantaram inesperadamente o Hino Nacional, provocando susto num primeiro momento, mas, no final, causou muito boa impressão dos presentes. Todos aplaudiram a atitude espontânea dos estudantes, inclusive o governador Geraldo Alckmin.