O valor do mercado

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Mercado de peixe? Não, mercado também tem frango, carne, verduras, frutas, temperos e tudo que se imagina para receitas simples e sofisticadas, e muito, muito mais. Mercados são espaços criados para comercializar alimentos frescos e prontos como queijos, pães e petiscos. Apesar de menor que o Central, o Mercado da Lapa tem um mundo de possibilidades. Um pouco de tudo. De uns tempos pra cá ele ganhou novas lanchonetes, cafés e casa de bolo, mas mantém o jeitão rústico e os seus mil aromas. Nos dias úteis recebe cerca de 8 mil pessoas e mais de 12 mil nos finais de semana e épocas de festas. Sem dúvida, um atrativo de negócio.

A Acomel (Associação dos Comerciantes do Mercado da Lapa) fez melhorias recentemente: o telhado e os banheiros foram reformados. Tudo bancado pelos comerciantes para dar mais conforto a quem trabalha e compra nos boxes. O Mercado é um negócio que vai além dos muitos gostos e aromas. É um espaço que proporciona a geração de empregos e de renda para pequenos e médios produtores que abastecem os seus boxes. Somado a esses fatores está a estrutura simples (em formato de galpão com divisórias) que resulta em produtos a preços acessíveis a todas as classes, principalmente a de baixa renda.

O pacote de concessões à iniciativa privada do governo João Doria que, até quinta-feira incluía os mercados e sacolões, tirou o sonho de muitos comerciantes que estão lá desde a inauguração (época Vargas) e pagam para explorar o seu negócio no espaço municipal. O receio é que mercados, como o da Lapa, se transformem em um pepino, caso sejam concedidos à iniciativa privada, e o valor para se manter fique elevado demais, refletindo no preço final dos produtos ao consumidor e queda no movimento.

Se por um lado, a concessão é interessante do ponto de vista do investimento rápido na modernização dos espaços, por outro é preciso manter o charme e as características dos mercados. Afinal, o turista que vai ao mercado quer sentir seus aromas e conhecer as possibilidades gastronômicas e não as de um shopping.

Após Audiências Públicas, a Câmara Municipal de São Paulo aprovou em segunda (e definitiva) votação, na noite de quinta-feira (21), o substitutivo do Executivo ao Projeto de Lei 367/2017 que autoriza a Prefeitura a conceder uma série de bens e serviços públicos. Foram 38 votos favoráveis, 13 contra e nenhuma abstenção. O vereador Fábio Riva da bancada governista foi um dos parlamentares procurados pelos comerciantes para retirar os mercados do projeto. Riva conta que apresentou emenda para excluir todos os mercados do projeto, mas ficaram dois (o da Cantareira e o Kinjo Yamato, no Centro) por falta de representatividade.

A pressão de permissionários, como os do Mercado da Lapa, resultou na retirada de 12 mercados do pacote de concessões, mas isso não significa que a luta acabou. A Prefeitura terá 180 dias para elaborar um novo projeto que contemple as unidades que ficaram de fora. A discussão continua. Todos os comerciantes dos 12 mercados e 16 sacolões terão que apresentar um plano de intervenção, caso contrário quem apresentar o melhor valor de investimento leva a concessão do Mercado. O problema é que, dependendo de como for o processo, a comida deve ficar mais salgada para todos.

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