Não é sempre que temos a chance de participar de uma transformação urbana. Estamos mais acostumados a lidar com as consequências das intervenções que são feitas do que de fato fazer parte de sua implementação. A cidade é dinâmica e nem tudo que acontece que altera suas características urbanas é feito de forma ordenada, com projeto e normas a serem seguidas. Enquanto a construção de um prédio ou viaduto pode ser acompanhada etapa por etapa, a ocupação de um terreno ou formação de um ponto de descarte irregular, muitas vezes, parecem simplesmente surgir da noite para o dia.
A Vila Leopoldina passa por um grande e não tão rápido processo de transformação. De chácaras em um terreno pantanoso passou para uma concentração de galpões industriais e, hoje, já abriga muitos comércios e empreendimentos residenciais de alto padrão. A Ceagesp, nascida da fusão de duas empresas do governo do Estado de São Paulo em 1969, é um dos símbolos do bairro, e também um dos principais pontos de impacto. O debate sobre a saída da companhia da região não é recente e, quando e se de fato ocorrer, não será um processo fácil.
Uma empresa bem-sucedida não deve apenas executar o seu trabalho. Ela deve trabalhar com previsões e considerar todas as possibilidades que podem gerar lucro ao longo do tempo. A saída da Ceagesp é uma variante de muito interesse na especulação do mercado imobiliário.
A proposta do PIU Leopoldina, apesar de não ser explicitamente vinculada à saída da Ceagesp, é um investimento que dará muito retorno aos proponentes se de fato a região passar por essa grande transformação. Na megalópole de São Paulo, a Vila Leopoldina é um dos últimos, se não o último bairro que poderá ser como uma tela em branco para a transformação urbana. Apesar da grande quantidade de técnicos envolvidos para elaborar as intervenções e melhorias que o projeto prevê, é fundamental a participação de quem será diretamente afetado por essa mudança.
Alguns argumentos são discutíveis, como o fato de se criar duas áreas de habitação de interesse social para as famílias das comunidades, com a justificativa de que dessa forma o adensamento será mais saudável na região. Porém, os próprios empreendimentos comerciais e residenciais que vão ser feitos promovem uma concentração de pessoas bastante considerável. Então a definição de “adensamento saudável” deve ser melhor explicada.
Transformar um bairro (e lucrar com isso) deve ser acompanhado de perto pela população que já está lá. As opções são interferir enquanto é possível ou aceitar aquilo que for definido por quem conduz o processo.