Nossa história

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No contexto atual, morar em sua própria casa pode ser considerado um ato de resistência. Quem assistiu ao filme “Aquarius”, do Kleber Mendonça Filho, pode acompanhar como a especulação imobiliária consegue agir de forma insidiosa e até mesmo cruel. No início, empreiteiras tentam o diálogo amigável para conseguir um cenário que agrade a todos. Se não funcionar, utilizam-se de estratégias prejudiciais ou simplesmente ignoram o bem-estar de quem será afetado pelo empreendimento.

Sabemos que a construção de um prédio é algo extremamente lucrativo para quem investe e para a Prefeitura, que autoriza obras maiores mediante o pagamento da outorga onerosa. Mas não é correto que uma obra ao lado ou atrás de sua casa cause rachaduras nas paredes ou abra um buraco em sua cozinha, mesmo que a construtora se “ofereça” para reparar os danos. Quem garante que uma rachadura em uma casa antiga não pode causar um desmoronamento e até mesmo uma morte em decorrência disso?

A construção de novos prédios, residenciais ou comerciais, é algo que pode ser notado em todos os distritos da nossa região. Mesmo com a crise, parece que não faltam interessados em investir ou comprar apartamentos. Se no contexto de uma metrópole essa verticalização é considerada inevitável, devia ao menos ser feita considerando que os proprietários de casas que já estavam no bairro antes têm o direito de morar nelas e morar com qualidade. Infelizmente, moradores antigos muitas vezes preferem vender suas propriedades do que lutar pelo seu patrimônio material e afetivo. Até porque a disputa entre uma pessoa ou família contra uma corporação é extremamente desigual.

Na semana da Jornada do Patrimônio é válido refletir sobre a importância de preservar a história. É muito diferente ler ou ver fotos de construções do passado e vê-las pessoalmente, saber seu contexto e razão de existir. Pessoas pagam caro para viajar e conhecer os símbolos que contam a história da humanidade, como o Coliseu de Roma ou a Acrópole de Atenas, sem se dar conta que a história também está aqui, no seu caminho diário entre casa e trabalho.

Nossa região é afortunada nesse aspecto, com muitos locais que contam a trajetória da cidade e do país. Os tombamentos garantem que parte dessa história não se perca, enquanto outras partes dependem do esforço das próprias pessoas para manter a tradição, como a Corporação Musical Operária da Lapa, a banda mais antiga da cidade, fundada em 1881.

Conhecer as atrações da Jornada é ótimo para criar um laço maior com o bairro em que se mora. E é bom aproveitar enquanto a história ainda faz parte do nosso cenário urbano, porque um dia ela pode existir apenas nos livros.

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