Embora sejamos um veículo de bairro com o principal objetivo de trazer as notícias que impactam ou que são exclusivas da região, não podemos ignorar o peso que esse número do título traz. Peso porque mesmo que não seja o caso de uma pessoa próxima fazer parte dessa estatística terrível, e está cada vez mais difícil não conhecer alguém que se foi por causa da pandemia, não podemos ignorar o quanto a vida de todos piorou nesse último ano.
E nem temos o alento de falar que o pior já passou, pois vivemos agora o recrudescimento da doença, com a explosão de novos casos, lotação de leitos e um ritmo de vacinação preocupante que, segundo a Fiocruz, se for mantido só será possível imunizar toda a população em 2024.
Mais uma vez voltaremos a um período de restrições, que não é completamente efetivo ou mesmo respeitado, e seguimos com os dois piores cenários: avanço da doença e prejuízo da economia. Já vivemos o colapso da saúde e se não fizermos a nossa parte para tentar urgentemente reduzir esses números, o próximo colapso será o do sistema funerário.
Mas há ainda pessoas muito egoístas, que acham que por terem pego a doença de forma leve estão seguras, sem considerar que elas podem ser transmissoras silenciosas do vírus e contribuir para mais casos e mais vidas perdidas. As medidas de isolamento e cuidado, como o uso de máscaras, são cruciais agora, se não por você mesmo, pelos outros. Vivemos coletivamente e o que fazemos impacta outras vidas além das nossas.
E se a tragédia que se estende há mais de um ano é algo para se lamentar, temos ainda as tragédias crônicas da desigualdade em nossa cidade. No último final de semana vimos a ocupação de um conjunto habitacional no Jardim Humaitá, prestes a ser entregue para famílias que o aguardam há mais de uma década. Por mais que a Prefeitura afirme que existe uma fila, o déficit habitacional está longe de ser resolvido. E como solução, para os anos que se precisa esperar para conseguir uma moradia, é pago um auxílio aluguel de R$ 400, valor esse que hoje não enche um carrinho de supermercado, muito menos garante uma moradia digna para toda uma família na cidade. E sem moradia, muitas pessoas não conseguem um emprego, não conseguem se manter e o ciclo de pobreza e desigualdade se perpetua.
É injusto furar uma fila, seja para o recebimento de uma vacina, de moradia, ou de qualquer coisa que for, mas mais injusto é tolerar que os problemas da cidade, e aqui podemos falar em estado e país também, sejam endêmicos.