A charmosa Casa Amarela da Vila Romana, localizada na Rua Camilo, 955, é considerada o primeiro imóvel do bairro. Construída em 1921, a casa completa 100 anos em 2021. O mês ao certo não se sabe, mas a inscrição do ano consta logo na frente da casa. O mês de maio foi escolhido como data a ser comemorada por ser o aniversário de Angelo de Bortoli, o imigrante que construiu a casa.
Angelo de Bortoli nasceu em 25 de maio de 1862 e faleceu em 25 de março de 1945. Filho de camponeses, é originário de Padova, na Itália, e aos 18 anos resolveu aventurar-se em terras brasileiras. Ele não veio através do serviço de imigração, mas sim às suas próprias custas, “alle sue spese”, como gostava de frisar.
Angelo desembarcou no porto de Santos em 1880 e veio para São Paulo onde trabalhou em uma casa de família, fazendo vários tipos de serviço. Também trabalhou em um frigorífico até juntar dinheiro para comprar um “tílburi”, carro de praça levado por cavalos, e tornar-se motorista. O italiano fazia ponto no Largo São Bento e orgulhava-se em contar que o Conselheiro Antônio Prado era seu freguês assíduo.
Em 1889, após a chegada de seus irmãos, Angelo comprou um grande terreno, totalmente tomado pelo capinzal, na então distante Vila Romana. Em seu sítio, Angelo hospedou o imigrante também italiano Liberal Marson e sua família. A filha Teresa Marson viria a ser a esposa de Angelo. Em 1921, a Casa Amarela foi construída para ser alugada e abrigar imigrantes que chegavam ao Brasil. O aluguel era baixíssimo, já que o objetivo não era lucrar, mas sim acolher. A casa ocupava o local de um antigo estábulo e ainda não havia a demarcação das ruas.
Fernando de Bortoli, filho caçula de Angelo, escreveu em 1975 o livro “Os Pioneiros – uma história de coragem e fé”, que é a principal fonte histórica sobre a família que desbravou a Vila Romana. Fernando de Bortoli nasceu em 22 de fevereiro de 1922, no mesmo mês das famosas apresentações da Semana de Arte Moderna, e curiosamente faleceu em 22 de fevereiro de 2002, ao completar 80 anos. Foi cantor de ópera e chegou a se apresentar junto com Hebe Camargo. Também trabalhou no Teatro Municipal como copista de partituras de música, na Casa Manon, loja de instrumentos musicais, e no Bazar Lapeano, importante livraria e papelaria da Lapa.
Para celebrar os 100 da Casa Amarela, será realizada uma live no dia 27 de maio (quinta-feira), às 19h, com Janice de Piero, bisneta de Angelo de Bortoli, e Emidio Luisi, premiado fotógrafo responsável pelo projeto audiovisual “Os Pioneiros da Vila Romana”. Quem quiser participar pode se inscrever pelo e-mail fotograma@fotogramaimagens.com.
Vizinhança
Com toda essa rica história, o entorno da Casa Amarela não tem tido dias tranquilos. Diversos moradores reclamam dos impactos que a obra de um empreendimento na Rua Catão tem causado, que vão desde o barulho até 20h em dias de semana e às 15h aos sábados, a vibração sentida por causa do uso de uma máquina perfuratriz e o forte odor de diesel. Muitos dos vizinhos são idosos, que não podem sair de casa por causa da pandemia e por terem outros problemas de saúde. Há também um bebê recém-nascido exposto aos incômodos.