Como medir forças com quem tem recursos? Essa batalha é muito difícil e dá margem para injustiças de todo tipo. Os Estados Unidos tem uma cultura muito forte em relação ao respeito à propriedade e de fato ninguém poderia alienar aquilo que por direito é nosso, que nós mesmos ou nossos antepassados construíram. Infelizmente não é incomum nos casos de empreendimentos previstos para uma determinada área, quando os vizinhos não concordam em vender seus imóveis, que o assédio se revele na forma de um convívio insuportável.
Seja pelo impacto das obras, pela poeira, pelo barulho, pela obstrução da vista, pelo bloqueio do sol que antes chegava em todos os cômodos. As pessoas que não queriam deixar suas casas, onde viveram toda sua vida, criaram memórias, acabam cedendo e mudam-se para outro lugar com mais qualidade de vida.
Sabemos que a verticalização não está nem perto de chegar ao fim na cidade, atendendo os interesses de um mercado poderoso e uma inexplicável demanda, ainda mais em tempos tão difíceis do ponto de vista econômico para a maioria das pessoas. Mas não é certo aceitar que quem quer construir o faça sem considerar o impacto que vai causar a quem já estava no bairro antes. Essa é a bandeira do MOVER – Movimento de Oposição à Verticalização Abusiva da Lapa e Região, que luta não apenas por um ou outro imóvel específico, mas pelo direito de todos viverem em um bairro melhor.
Ainda dentro deste tema, essa semana a Prefeitura publicou os novos limites de ruído para obras, algo que se for respeitado será um grande ganho. Resta saber se a fiscalização será efetiva e ágil, sobretudo nos casos que ocorrerem fora do horário comercial.
E por falar em Prefeitura e especulação, durante a semana foram realizadas as audiências temáticas sobre a revisão intermediária do Plano Diretor Estratégico da cidade, que é justamente o conjunto de normas que deve guiar o processo de urbanização. Os órgãos públicos afirmam que estão garantindo a ampla participação ao disponibilizar os encontros de forma virtual. Mas sabemos que nem todos têm acesso à internet, facilidade em utilizá-la ou encontrar os links, disponibilidade de interromper seu dia às 15h para participar de um debate ou, lamentavelmente, interesse em participar. E como pode a Lapa, tão dinâmica e complexa, possuir apenas duas propostas na plataforma de contribuições, a apenas 15 dias do fim do prazo de envio?
A mobilização geralmente acontece depois, quando o problema está à sua porta. Quando uma obra de grande impacto já afeta sua vida, quando desapropriações são feitas com embasamento legal para isso e não é possível revertê-las. A hora de discutir e buscar o que é melhor para todos é agora.