Na quarta-feira (11) foi realizada uma grande operação, envolvendo 650 agentes das polícias civil e militar, e também da Guarda Civil Metropolitana (GCM), de desmobilização da cracolândia localizada na Praça Princesa Isabel. A ação tinha o objetivo de prender traficantes que circulam na região. O resultado foi a prisão de cinco pessoas, dois procurados e três detidos em flagrante, e a dispersão dos dependentes químicos que se dirigiram para diversas ruas do centro, como Helvétia, Barão de Limeira, Mauá, entre outras.
Há pelo menos três décadas que a cracolândia é um problema da cidade que as gestões tentam, sem sucesso, lidar. Na Vila Leopoldina, o consumo de drogas no entorno da Ceagesp e instalação de barracas também preocupa moradores e é alvo constante de reclamações.
Um tema de repercussão durante essa semana foi a fala da nova secretária de Direitos Humanos e Cidadania, Soninha Francine, sobre a proposta, que ainda seria estudada, de criar um camping para a população em situação de rua, uma área protegida onde as pessoas poderiam instalar barracas e contar com estrutura como banheiros e lavanderia. Projeto esse que já tinha sido apresentado à gestão do então prefeito João Doria, quando Soninha era secretária de Assistência e Desenvolvimento Social. Embora em fase inicial e sem terreno definido, o projeto gerou debate entre moradores, lideranças e representantes de entidades da região.
Em suas redes sociais, Soninha Francine falou que a proposta do camping é uma demanda antiga e dos próprios movimentos sociais ligados ao tema. “Barraca não é moradia, é solução emergencial, por exemplo, para acolhimento de refugiados. Muitos se referem à população em situação de rua como ‘refugiados urbanos’. É uma emergência. As pessoas já estão em barracas, pedem barracas, montadas em lugares sem estrutura. Por que não oferecer, em curto prazo, um lugar decente? Com banheiros, chuveiros etc? Movimentos da pop rua reivindicam camping há anos”, escreveu.
Outra preocupação dos moradores é em relação ao uso do Pelezão para abrigar as pessoas em situação de rua, medida que tem sido realizada desde 2019 dentro da Operação Baixas Temperaturas. Durante a pandemia, o clube também foi utilizado para acolher pessoas que estavam com sintomas de Covid.
A própria estrutura assistencial é alvo de questionamentos. Em 2021 a Comissão Extraordinária de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Câmara Municipal publicou um relatório após realizar visitas de inspeção nos serviços voltados a população em situação de rua. O documento apontou diversos problemas estruturais e de atendimento em todos os equipamentos visitados, entre eles o CTA da Lapa, inaugurado em 2017. A unidade conta com 210 vagas, recebendo um repasse mensal de R$ 299.530,22, o equivalente ao valor mensal por pessoa de R$ 1.426,33.
Entre as críticas referentes ao equipamento da Lapa estava a falta de oferta de variedade nutricional nas refeições servidas, com ausência de verduras, legumes e frutas, quartos precários com presença de mofo e percevejos, forte odor de produtos químicos utilizados para a limpeza, falta de distribuição de kits de higiene, armários para guardar pertences danificados ou enferrujados, entre outros.
O relatório completo está disponível no site da Câmara Municipal (www.saopaulo.sp.leg.br/comissao/comissoes-extraordinarias/comissao-extraordinaria-de-defesa-dos-direitos-humanos-cidadania/) na parte intitulada “documentação”.