Espaços com propósito

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São Paulo é uma cidade de muitas contradições. Temos um déficit habitacional de quase 500 mil moradias, ao mesmo tempo que vemos empreendimentos de alto padrão sendo construídos por toda parte. É de se questionar como é possível ter tantos compradores em um cenário econômico tão complicado.

Também é muito triste ver equipamentos públicos fechados ou subutilizados. Caso do Hospital Sorocabana que segue sem projeto concreto de reabertura de todos os andares, do Parque Orlando Villas-Bôas que ao menos elegeu seu conselho gestor ou o grande imóvel da Rua Sepetiba onde antes funcionava um CDC (Clube da Comunidade), fechado em 2015 com a promessa de se instalar a UBS da Vila Ipojuca no local, demanda muito cobrada pelos moradores e usuários que hoje utilizam a unidade na Vila Romana. É lá que alguns moradores e entidades sugerem que seja instalada a estrutura de acolhimento para pessoas em situação de rua durante a Operação Baixas Temperaturas, ao invés de se utilizar o Pelezão. A Prefeitura ainda não confirmou o uso do clube do Alto da Lapa, como ocorreu nos anos anteriores, mas afirma que se isso ocorrer não vai interferir com as atividades lá realizadas.

No momento tão grave que vivemos, com essa onda de frio que pode de fato ser responsável pelo fim de uma vida, todo esforço deveria ser feito, por todos que puderem. Se muitas pessoas não aceitam o acolhimento por não se sentirem confortáveis nos equipamentos ou não se enquadrarem nas regras de funcionamento, talvez seja preciso rever as regras. Igrejas poderiam ficar abertas à noite para que as pessoas pudessem ao menos fugir do vento cortante. Hotéis próximos ao locais onde há a presença das pessoas que estão na rua deveriam ganhar mais subsídios para abrigá-las. Apenas “jogar” o problema de um canto para outro jamais será a solução.

Mas em tempos tão difíceis, também existem notícias que aquecem o coração. Caso da inauguração da primeira livraria de rua da Vila Romana. Um segmento que acaba sendo movido por paixão, mais do que pela rentabilidade, afinal muito difícil competir com os preços das multinacionais que operam na internet. Iniciativas que valorizam a cultura sempre são bem-vindas. E se falei sobre subutilização de espaços, não podemos esquecer de lugares muito importantes como o Teatro Cacilda Becker, em frente à nova livraria, que oferece uma programação gratuita de alta qualidade que deveria ter muito mais busca, e a Biblioteca Mário Schenberg com um acervo muito bom, inclusive em Braille, exposições e atividades infantis. Cultura e conhecimento não podem ser limitados a poucos. Merecem estar ao alcance de todos.

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