Gosto muito de uma reportagem de 2018 com o tecnólogo do MIT Aviv Ovadya, em que ele fala sobre o fenômeno que chama de “infocalipse”. Ele conta como as empresas de tecnologia acabaram propiciando um ambiente virtual nocivo, no caso das redes sociais com algoritmos que recompensam conteúdos que geram engajamento, mas não necessariamente comprometidos com a verdade. O que por sua vez pode gerar a proliferação de informações enganosas ou polarizadas. De fato isso acontece. Ele também fala sobre o avanço das ferramentas de manipulação que geram vídeos falsos cada vez mais realistas, chamados de “deep fakes”, e como isso vai fazer com que muitas pessoas passem a questionar o que é real e o que foi manipulado.
Voltando para o nosso cenário político, são evidentes os impactos da combinação entre polarização e o uso não apropriado de tecnologia. Tivemos um período de campanha deplorável, com fake news por toda parte, inúmeros pedidos de direito de resposta e informações improcedentes faladas com a maior naturalidade durante debates. Um show de horrores. O diálogo pragmático e saudável não foi o caminho escolhido. Seria bom se isso acabasse neste domingo com o segundo turno e definição de quem vai comandar o país pelos próximos anos. Mas não vai. Independentemente de quem ganhar, o outro lado não vai considerar a derrota palatável. O sentimento de mal-estar do lado que perder vai perdurar e somado a isso temos todos os desafios já existentes como a insegurança alimentar, equilíbrio orçamentário, necessidade de investimentos, entre tantos outros que acabaram perdendo espaço no noticiário das últimas semanas para que se passasse apenas o fogo cruzado, quem falou o que de quem.
Claro que a política nacional afeta a todos nós, mas na esfera do jornalismo regional, onde cobrimos as conquistas locais, como a construção de uma UBS, ou os problemas cotidianos, como a presença de buracos na rua, perturbação de sossego, etc, acaba sendo mais fácil identificar os atores envolvidos em uma construção saudável da sociedade. Pessoas dedicadas a deixar um legado, a avançar, mesmo que devagar, com um projeto, a melhorar a vida de um bairro, de seus vizinhos. Tudo isso sem uma campanha que dissemina informações falsas ou imprecisas, nem fãs que militam fervorosamente por sua causa. Acaba sendo muito mais gratificante acompanhar esse tipo de trabalho do que o complexo quid pro quo de Brasília.
Tenho minha preferência de voto, que considero o único possível, mas acredito que a essa altura você leitor/a já tenha decidido o seu. Que as eleições sejam tranquilas, respeitosas e, principalmente, respeitadas. A democracia pode ter falhas, mas é o melhor modelo que temos.