A matemática do tumulto

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Para ajudar a entender o caos que se tornou morar na área em torno da Arena Allianz Parque com os constantes shows realizados ali é importante evidenciar alguns números. Só este ano o estádio foi palco de mais de 70 grandes eventos – isso sem contar as partidas de futebol –, que costumam atrair para o local um público de cerca de 60 mil pessoas por show. As filas do lado de fora da Arena, horas (ou até dias) antes de alguns desses eventos, chega até próximo da estação Barra Funda do Metrô, passando pelo Shopping West Plaza e atravessando a Avenida Antartica.

Enquanto esse público privilegiado se diverte tranquilamente, sem ser importunado, os mais de 100 mil moradores de Perdizes e Pompeia, bairros que ficam mais próximos ao Allianz, são obrigados a conviver dia e noite com o tumulto, a sujeira e o barulho ensurdecedor. Além do ‘bate-estaca’ sonoro que vem de dentro da Arena e começa já à tarde, com os ensaios e passagens de som, as ruas e calçadas, tomadas de gente, ficam literalmente intransitáveis. Não se consegue entrar e sair de casa, entrar nas lojas, brincar nas praças ou chegar aos hospitais. As 18 linhas de ônibus que servem a área têm seus percursos alterados. Ninguém chega ou sai de carro, Uber ou bicicleta e não há previsão do tempo que se vai levar para ir ou chegar do trabalho e da escola.

Para cada megashow, segundo informações do subprefeito da Lapa, Luiz Carlos Smith Pepe, são deslocados mais de 200 homes do efetivo da Guarda Civil Metropolitana e da subprefeitura, além de um grande número de viaturas e motos, o que nos leva a uma pergunta pertinente, também baseada em números: é justo que os quase 12 milhões de paulistanos, incluindo aí todos os moradores da região incomodados pela perturbação do sossego e impedidos de exercer seu pleno direito de ir e vir, paguem para dar lucro ao privado e para que uns poucos se divirtam, muitos fazendo isso de forma inconsequente?

Mais do que simplesmente pedir que os portões do Allianz abram mais cedo para que os expectadores saiam do meio da rua, como pedem os moradores, é preciso que o poder público sente com a sociedade e a iniciativa privada para planejar a fundo como toda essa questão pode ser resolvida. São Paulo, afinal, tem vários locais, além da Arena Allianz Parque, destinados a grandes eventos. E não é mais possível que, a cada show, uma boa parte da população fique prejudicada para garantir a diversão de alguns e encher os bolsos dos megaprodutores.

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