Num momento em que as manchetes dos jornais e das TVs focam na tragédia ocorrida no Rio Grande do Sul, nós, da imprensa local, não podemos deixar de lado um assunto assim tão triste e chocante para todo o país e para o mundo. E a nós, que estamos longe dos irmãos gaúchos – pelo menos na distância física –, cabe tratar essa notícia sob um ângulo diferente, que tenha relevância também para a população da nossa região.
Sendo assim, nada melhor do que, num contraponto à tragédia, buscar focar em algo positivo, que sirva de alento a todos que sentimos a mesma dor pelas enormes perdas do povo do Rio Grande do Sul. Por isso hoje, aqui neste espaço, escolhi falar de solidariedade, algo que, com certeza, nós, lapeamos, sabemos expressar muitíssimo bem!
São inúmeras as iniciativas de ajuda ao Sul organizadas por moradores e entidades aqui da região. Em uma grande corrente, a mobilização corre pelas redes sociais dos bairros da Subprefeitura Lapa, incentivando cada vez mais pessoas a fazerem sua parte para ajudar. O resultado desse esforço dos lapeanos se traduz nas inúmeras imagens mostrando locais como a sede da Associação Moradores Ceasa (AMC) e as instalações da AVIVA, braço social da igreja batista Yah Church, lotadas de mantimentos, água, roupas e produtos de limpeza, gêneros de primeira necessidade, nesse momento, para os milhares de desabrigados do Rio Grande.
Puxando pela memória e voltando um pouco mais no tempo, nesses meus mais de 20 anos morando na região posso lembrar alguns outros episódios que reforçam a tese de que somos uma comunidade humana e solidária. Em 2012, por exemplo, os moradores da favela do Jardim Humaitá foram surpreendidos com um grande incêndio, que destruiu mais de 100 barracos. Prontamente, os lapeanos se mobilizaram recolhendo doações e enviando todo o tipo de ajuda ao Clube Pelezão, no Alto da Lapa, que serviu de abrigo emergencial para as famílias que ficaram sem-teto.
O mesmo se verificou, nos anos 90, quando o mesmo Pelezão cedeu suas instalações recebendo desabrigados vítimas de uma grande enchente que cobriu vários bairros da cidade. Já mais recentemente, durante a pandemia, a Leopoldina se mobilizou para socorrer moradores de rua na forte frente fria de 2021, que derrubou as temperaturas em São Paulo para cerca de 5° nas madrugadas.
Essa disposição em ajudar pode ser encarada como algo até obrigatório diante de momentos de tragédia como os que descrevi acima. Mas, mesmo assim, nos enche de orgulho, principalmente por vivermos, hoje, em um mundo onde as pessoas são cada vez mais desumanas e egoístas.
Espero, sinceramente, que não nos esqueçamos de tantos bons exemplos, pois, com certeza, eles são capazes de reforçar e perpetuar esse tão necessário espírito solidário. Afinal, é ele quem define o que é ser humano.