Escrevo-lhe porque já escrevi para o Ari e para o Plato.
Eu sei, Eu sei: eu devia primeiro ter escrito para você. Desculpe. Perdoe-me, eu errei, porque o Plato não existiria e o Ari não existiria se você não tivesse existido antes deles, a ensinar a juventude de Atenas a pensar.
Olhe, Mestre Sócrates, foi você o começo verdadeiro dessa coisa maravilhosa de pensar e raciocinar e concluir e perguntar de novo e de novo repensar e aperfeiçoar as conclusões.
Meu Sócrates, você é o ponto culminante da Filosofia Ocidental: há filósofos pré-socráticos, filósofos socráticos e pós-socráticos. E como há. E a culpa é sua, porque todo homem descobriu que é mortal e pode andar socratizando por aí:- “Todo homem é mortal. Sócrates é homem, logo Sócrates é mortal”. Ora, eu mesmo disse a mim mesmo, nos anos das luzes, das forças e das alegrias espontâneas da mocidade: “ Nereu, você é um homem, Sócrates foi um homem, logo você pode ser Sócrates.”
Ah! Meu caro Mestre, esses silogismos são tão enganosos, não?
Dizem que você disse que o que você sabia era que você nada sabia: é nesse ponto que o meu silogismo é sabido. Que sei eu? Só sei que nada sei e que os conhecimentos são como a erva da manhã que é verde e fresca e, à tarde, resseca-se e é tomada pelo fogo.
Olhe, Mestre, nesses mais de 2.300 anos depois de sua vida na Terra, muitíssimas coisas mudaram. Até o átomo do seu conhecido colega e antecessor, o Demócrito, foi reduzido a nada, explodindo e amedrontando o pobre homem…
Bom, meu bom amigo, preciso parar de escrever. A carta fica a meio. Um abraço de carinho e de amor fraternal, ou filial?