Herança Maldita

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No marketing político que domina a cena de qualquer campanha eleitoral, os marqueteiros são chamados a remodelar discursos, comportamentos e até mesmo o visual de candidatos ávidos pelo Poder Executivo. As cartilhas do marketing eleitoral colocam nas ruas e diante da TV candidatos maquiados, que diluem o conteúdo ideológico e programático de seus discursos num mar de promessas sem dizer como elas serão cumpridas.
Mas no discurso político de todo candidato há algo com que os marqueteiros não se preocupam, dado que se trata de uma herança genética transmitida de geração a geração e refinada, automaticamente, a cada passagem: a capacidade nata de se creditar a São Pedro o caos quando chove além da conta.
O prefeito Gilberto Kassab (DEM) e o governador Geraldo Alckmin (PSDB) são exemplos clássicos desta herança genética. O primeiro herda o gene da desculpa esfarrapada de uma linhagem de antecessores como Maluf, Pitta, Marta e Serra. Ao falar sobre as enchentes neste início de ano, Kassab argumentou o seguinte: nos 11 primeiros dias de janeiro, o índice de precipitação pluviométrica correspondia a 93% da média registrada para o período nos últimos anos. Ou seja, São Pedro exagerou demais na dose.
No plano do governo estadual, tal carga genética vem sendo tucanamente refinada desde 1994, passando da gestão Covas para aquela de Alckmin, depois Serra, e agora voltando, com altíssimo grau de depuração, para o atual governador. Questionado sobre as enchentes na capital e Região Metropolitana, Alckmin creditou o cenário às chuvas excepcionais (gene normal), acrescentando que “obras não ficam prontas em 24 horas” (genética depurada), ignorando, assim, que o Estado de São Paulo, nos últimos 16 anos, tem sido governado pelo PSDB.    
O que vivemos nas duas últimas semanas escancara o efeito deletério da maldita herança genética da desculpa esfarrapada a cada chuva forte, marca registrada do malufismo, petismo e dem-tucanato.
Áreas da Sub Lapa, mais uma vez, ficaram submersas. Kassab é prefeito de São Paulo desde abril de 2006, tempo mais do que suficiente para ter implementado, em parceria com os governadores tucanos, projetos de drenagem nos bairros da gente. Onde está o projeto antienchente para a região da Leopoldina? Em lugar algum, pois não existe estudo a esse respeito. Onde estão as obras nas galerias pluviais na região da Guaicurus e do Mercado? Travadas na malha burocrática da Prefeitura. E a licitação para a construção de novas galerias na Pompeia? À espera da assinatura de um burocrata de plantão para ser publicada no Diário Oficial.
Enquanto cidadãos, estamos cansados das eternas desculpas. Queremos respostas concretas, o que equivale a dizer:exigimos de nossos governantes obras urgentes e planejamento urbano de médio e longo prazo.

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