Quando faltam apenas dois meses para as eleições municipais, o movimento nos corredores e gabinetes do Tribunal Regional Eleitoral, na Rua Francisca Michelina (Centro), é intenso. Em períodos assim, a carga de trabalho dos juízes torna-se cada vez maior, pois acumulam-se processos e mais processos relativos ao comportamento de milhares de candidatos que se movimentam pelos municípios paulistas em busca de votos dos eleitores.
Mesmo com toda essa agitação, o juiz Flávio Yarshell, um paulistano de raízes na Lapa, encontrou uma brecha na sua agenda para conversar com a redação do JG. “Tenho boas recordações dos 40 anos em que vive na Lapa, nas ruas Francisco Mainardi e na Saldanha da Gama”, conta Yarshell, que carrega no sangue a tradição de uma velha escola do Direito na região: seu pai, Aldo Bruno Yarshell, um dos fundadores da Associação dos Advogados da Lapa, mesmo falecido, ainda é referência na história da advocacia lapeana. “Hoje moro em outro bairro, mas bem perto da Lapa”. Com graduação, mestrado, doutorado e livre docência na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (Largo São Francisco), o juiz Yarshell leciona Direito Processual na USP e também atua como advogado.
Na entrevista concedida em seu escritório, ele abordou alguns aspectos do panorama eleitoral 2008. Um deles foi a restrição da propaganda eleitoral imposta pela legislação. “Não acho que existam restrições em excesso”, avalia Yarshell ao ser questionado sobre as amarras das atuais normas do TSE, que para alguns analistas prejudicam quem concorre sem mandato eletivo, favorecendo quem já é prefeito ou vereador. “Quem está no exercício do mandato leva uma vantagem inerente ao cargo que ocupa. A lei existe para que se estabeleçam isonomias e serve para evitar o abuso do poder político e econômico”. Quanto às restrições da propaganda no mundo virtual, Yarshell diz que ainda é preciso avançar sobre esse assunto.“A partir da Internet podemos acessar vídeos no You Tube ou entrar no Orkut. Não vejo as mensagens no Orkut como propaganda. Mas temos de ampliar a discussão.”
Numa avaliação sobre o comportamento do cidadão brasileiro diante do processo eleitoral, o juiz “lapeano” diz que houve um amadurecimento, mas “como não existe uma única realidade social no Brasil, algumas áreas ainda são marcadas pelo clientelismo. Mas, no geral, progredimos muito”.