Conversar com a sanfonista Renata Sbrighi sobre seu passado familiar é viajar no tempo e descobrir uma história que nos legou talentos, não só na música como também na medicina e no esporte.
Tudo começou em 1891, quando Cláudio e Augusta Sbrighi desembarcaram no Porto de Santos, após uma longa travessia marítima, que teve como marco zero a cidade de Veneza, na Itália. No navio, o casal Sbrighi e o filho Renato, de 5 anos, conheceram a família Toninato. “Renato passou a viagem toda brincando com a Teresa Toninato, uma bela menina de 4 anos. E foi cruzando o Atlântico que as duas famílias combinaram o casamento de seus filhos”, conta Renata, ao lembrar de seus bisavôs, que moraram e trabalharam na Lapa.
Treze anos depois, o combinado foi cumprido. Numa festa tipicamente italiana, Renato e Teresa subiam ao altar. O jovem lapeano trabalhou como carvoeiro na rede ferroviária e depois fez sucesso como dono de posto de gasolina e de um bar-pizzaria (o Lapa Progride), na região da Cincinato Pomponet com Doze de Outubro, nos anos 20, além de abrir o cine São Carlos na Rua Guaicurus. “Meus avós tiveram 6 filhos. Aquele que ficou mais famoso foi o tio Cenno Sbrighi (*1911;+ 1975). Ele se formou em Medicina e é lembrado até hoje como o primeiro médico da Lapa. Cresci ouvindo que naquele tempo não existiam ambulâncias. Era o carro do meu tio que transportava os doentes”, recorda Renata. Hoje, Cenno Sbrighi empresta seu nome a uma rua na Lapa de Baixo, onde está localizada a TV Cultura.
Música e Futebol
Aristóteles, irmão mais velho de Cenno, nascido em 1905, viria a conhecer Elvira Naccarato, uma jovem filha de imigrantes calabreses. Dessa união nasceria Renata Sbrighi, que herdou da mãe a paixão pela música. “Comecei a estudar música com ela. Minha mãe tocava sanfona e sempre reunia um grupo de sanfoneiros. Ficava admirada aos vê-los tocar. Decidi seguir carreira na música. Fui para o Conservatório. Estudei piano e sanfona. Um dia pensei comigo mesmo: por que não lutar para formar uma orquestra de sanfoneiros? Foi assim que fundei a Orquestra Sanfônica, em 1988. O grupo existe até hoje com sede aqui na Lapa”.
Ao falar do seu pai, Renata lembra com orgulho que ele foi jogador do Palestra Itália (hoje Palmeiras) nos anos 20. Mais tarde ele seria homenageado com a carteirinha de sócio nº 1 do clube da Rua Turiaçu.