Quem passa pelo número 205 da Rua Carlos Vicari nem imagina que o antigo sobrado onde nos anos 60 e 70 funcionava uma torrefação de café esteja sob ameaça, mesmo com processo de tombamento aberto em dezembro de 2005 pelo Departamento Patrimônio Histórico (DPH), órgão da Secretária Municipal de Cultura.
O prédio, desde de dezembro do ano passado pertence ao Sonda Supermercados, também proprietário do terreno vizinho (antiga Caoa), onde construirá mais uma loja. A intenção inicial do novo proprietário era demolir o edifício, algo que ficou legalmente proibido depois que o DPH deu início ao processo de tombamento do conjunto arquitetônico, que chama a atenção pela estrutura de sua fachada e pela grande chaminé utilizada na torrefação dos grãos. A Resolução do DPH que dá inicio aos estudos para o tombamento do imóvel considera que o valor do conjunto arquitetônico da Carlos Vicari é um “importante testemunho no processo de industrialização da cidade de São Paulo, relacionado à expansão do período ferroviário”.
Uma vez aberto o processo, o proprietário não pode realizar nenhuma alteração (acréscimo ou demolição) no edifício em questão sem a prévia licença do DPH.
A impressão que se tem, olhando com mais calma para o casarão, é que não há a mínima preocupação quanto à preservação de um bem com valor histórico. Há sinais evidentes de deterioração da estrutura física, como é o caso do destelhamento. O Jornal da Gente apurou que é comum proprietários de edifícios tombados deixarem avançar o processo de deterioração do imóvel na esperança de que ele venha abaixo por si próprio. Em outros casos, existe a depredação paulatina da estrutura física, de modo a comprometer o tombamento.
O que diz o Sonda
Segundo nota oficial do proprietário,“a edificação e sua chaminé não são tombadas e nunca fizeram parte de qualquer listagem de órgãos de preservação municipal ou estadual porque não apresentam interesse maior. No DPH-SMC-PMSP há apenas um processo de estudo sobre a viabilidade do tombamento, solicitado pelos familiares do ex-proprietário, também antigos donos do imóvel vizinho”. Ainda segundo a empresa, “a abertura da análise da viabilidade do tombamento foi aceita em 22 de dezembro depois do início dos serviços preliminares para a demolição desta edificação, solicitada à Subprefeitura.Entretanto, sensibilizado com a questão, o Sonda Supermercados contratou um profissional especializado em restauro de bens para estudar conjuntamente com o DPH a possibilidade de recuperação da chaminé, procurando uma forma de torná-la visível e apreciável pela comunidade”.