Saudade sim, tristeza não

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Aos 86 anos, Deldina Gregori ainda guarda viva na memória, o que ela chama de bons tempos vividos na Rua Brentano. Numa ampla e antiga casa entre as ruas Carlos Weber e a Nanuque, dona Deldina recebeu a reportagem do Jornal da Gente para uma volta ao passado da Brentano e do próprio bairro da Vila Hamburguesa. Ao lado de um dos filhos, Silvio Gregori, a moradora falou com emoção de sua infância e juventude, contrapondo aspectos da vida cotidiana de ontem e de hoje.

A primeira casa

“Nasci na Mooca em 1920. Aos seis anos meus pais resolveram mudar de bairro e vieram morar aqui na Brentano, nesta mesma casa onde estou até hoje. A rua era de terra. Lembro das carroças que passavam vendendo alimentos. Minha mãe saía de casa para comprar carne numas dessas carroças. No nosso quintal quintal tinha um pomar com pêras, laranjas e até uva. Tinha também uma horta, com verduras sempre fresquinhas. O fogão era a lenha. Minha mãe preparava arroz, feijão e carne. Como meus avós eram portugueses, ela sabia fazer um ótimo caldo verde. Esses bons tempos de enchem desse tempo, mas sem carregar tristeza”

Namoro e casamento

“Aos 16 anos conheci o meu marido, também na rua Brentano. Na época das festas juninas, os vizinhos nos convidavam para o ‘arraia’. E foi numa dessas festas que comecei a namorar com o Paulo, da família dos Gregori. Naquele tempo o namora dentro de casa. Os pais ficavam vigiando o tempo todo. Depois de um ano nos casamos. O Paulo era barbeiro. Ele trabalhava na Rua Schilling e depois montou um salão na Praça Marechal Teodoro.Tivemos 8 filhos (três já falecidos), 11 netos e três bisnetos. Hoje sou viúva mas tive a felicidade de manter um casamento durante 64 anos. Cuidei desta casa sem as mordomias de hoje em dia. Lavava roupa no tanque e depois passava as peças no ferro a carvão. Quando veio a eletricidade tudo ficou mais fácil.
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A rua nos anos 60

Nascido em 1951, Silvio Gregori também fala de um bairro ainda com jeito de interior. “Adorava me divertir na rua. Uma coisa gostosa de fazer era brincar de mana mula, que se jogava assim: eram duas equipes, cada uma posicionada em lados opostos das calçadas na Brentano. No centro da rua fica um outro jogador. Tínhamos de atravessar de um lado para o outro pulando numa perna só, feito saci-pererê. O jogador que ficava no meio tinha de nos pegar e fazer com que os nossos dois pés ficassem na terra. Quem era pego saía do jogo. Por volta de 1960 é que chegou a iluminação da rua. Antes só tínhamos luz dentro de casa. Quando a Brentano ficou iluminada pela primeira vez, foi uma alegria geral”.

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