Recusei-me a votar o Orçamento Municipal para o próximo ano. Duas convicções às quais tenho sido fiel nestes 12 anos de mandato me levaram a esta atitude extrema. A primeira é que não é possível se ter gestão pública eficiente sem levar a sério seu instrumento mais importante e concreto, que é o Orçamento. A segunda, que a sociedade deve ser respeitada e não enganada. Conciliar os dois compromissos com a aprovação de um Orçamento condenado a violar uma ou outra não era possível.
A questão é de pura matemática. Com os recursos propostos de R$ 1,75 bi para o subsídio do transporte coletivo no Orçamento do próximo ano, não há como a tarifa do transporte não ser reajustada para um valor em torno de R$ 4,40. Manter a tarifa de ônibus congelada no atual valor de R$ 3,80 exigiria a inversão de mais recursos (por volta de R$ 750 mi), a se manter o custo em uma mesma ordem de grandeza, enquanto o cenário aponta para elevação dos custos.
Os números do orçamento mostram, então, que: ou a tarifa subirá dos atuais R$ 3,80 para R$ 4,40 – e, portanto, o compromisso de congelamento não será cumprido – ou alguma outra coisa prevista no orçamento não será executada para que o valor da tarifa seja mantido no valor atual de R$ 3,80. O que será cortado? Parece que ninguém tem a coragem de dizer. Nenhum homem público poderá no próximo ano dizer que não sabia, ou alegar razões emergenciais ou conjunturais para justificar à última hora e perante o fato consumado sua decisão.
O momento para se tomar a decisão de forma sincera, transparente e responsável é agora, quando se decide o orçamento. Quem ouve a voz das ruas sabe que a sociedade não aguenta mais estelionatos de vendedores de sonhos ou gestão demagógica e desastrada dos recursos públicos.