As unidades da Livraria Cultura localizadas nos shoppings Bourbon e Villa-Lobos encerraram suas atividades. Moradores da região lamentaram o fechamento em uma postagem de um grupo do Facebook.
A empresa tem um pedido de recuperação judicial e possui dívidas estimadas em pelo menos R$ 285 milhões. A crise para todo o setor de livrarias já era evidente em 2018. Um levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a partir de dados do Ministério do Trabalho, revelou que o número de livrarias e papelarias em funcionamento no Brasil encolheu 29% em 10 anos, sendo que no final de 2017, eram 52.572 estabelecimentos, 21.083 a menos do que o país reunia em 2007. Metade delas encerraram as atividades a partir de 2013.
Uma pesquisa da Nielsen em parceria com o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel) aponta que as vendas de livros aumentaram no Brasil entre 18 de maio a 14 de junho de 2020, quando o setor livreiro teve faturamento de R$ 109 milhões, um crescimento de 31% em relação ao mês anterior, mas 3,16% menor se comparado com o mesmo mês do ano anterior. Já em setembro, houve uma queda de 6,5% no faturamento com a venda de livros impressos no Brasil.
Além da questão das dívidas, e dos concorrentes fortes do comércio digital como a Amazon, que oferecem preços competitivos, há também o aumento do consumo de livros digitais que contribuíram para esse cenário. Outra pesquisa, também da Nielsen em parceria com a Câmara Brasileira do Livro e o Sindicato Nacional dos Editores de Livros, aponta que a venda de livros digitais cresceu 115% em três anos.
Questionada sobre o fechamento, a Cultura afirma em nota que, desde março de 2020, devido a todas as restrições impostas pela crise da Covid-19, iniciou negociações com todos os locadores para que tivesse condições comerciais adequadas à nova realidade e pudesse manter as lojas de maneira sustentável. Informa também que “apesar dos esforços de todos os lados, o prolongamento da crise e a falta de previsibilidade nos fez tomar a decisão de encerrar as operações das lojas do Shopping Bourbon, Shopping Villa-Lobos e Shopping Curitiba.
Segundo a Cultura, a pandemia impôs novos hábitos de consumo que dificilmente irão retroceder e que hoje as vendas de livros on-line representam algo como 80% da receita total do mercado. Parte importante do faturamento das lojas vinha de eventos, noites de autógrafos, atividades culturais, gastronômicas e obviamente de contato social, atividades que dificilmente voltarão com força ainda em 2021.
A empresa afirma que as lojas físicas continuarão a desempenhar um papel muito relevante no mercado, porém de uma forma muito diferente da que estávamos acostumados, e que a partir de março irá lançar serviços inéditos, com foco na integração dos meios digitais e os pontos de venda. A livraria afirma não ter a pretensão de concorrer com os gigantes do comércio eletrônico, mas sim de oferecer aos seus clientes algo que ninguém oferece, novo e único. A Cultura encerra sua nota com o seguinte pronunciamento. “Para os próximos meses nosso objetivo é manter somente as lojas que trazem retorno no curto prazo. Infelizmente lojas que teriam um retorno previsto para acima de 6 meses foram descontinuadas. O foco hoje é preservação de caixa e a saúde da empresa. O início da vacinação é um primeiro passo para voltarmos a normalidade, mas o Brasil ainda tem desafios gigantescos para conseguir superar essa crise. Infelizmente o ano de 2021 será também muito difícil. Com as medidas tomadas queremos estar prontos para, na medida que a normalidade for se restabelecendo, iniciarmos uma nova era para a Cultura”.