Ônus coletivo

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Achar que por morar em um bairro bom, em uma casa ou apartamento agradáveis e pagar um IPTU alto nos dá o direito de fechar os olhos para a realidade é um grande engano. Porque a desigualdade existente em uma cidade afeta todos nós. De que adianta ter uma vida confortável do ponto de vista material, seja por privilégio ou conquista, se vamos viver todos os nossos dias com medo da violência que é justamente um dos reflexos da desigualdade? Sem contar a falta de empatia ao se ter a consciência de que poucos têm muito enquanto outros não têm nem o básico.

A Prefeitura divulgou o novo censo da população em situação de rua e, como esperado, até porque é visível, a quantidade de pessoas vivendo em condição de vulnerabilidade aumentou. Certamente a pandemia foi um fator que contribuiu muito para isso, mas os problemas decorrentes de não implementar soluções são históricos, por exemplo, com a dificuldade de reduzir o déficit habitacional.

Quase todas as semanas tenho falado aqui da injustificável falta de avanço das obras da Operação Urbana Consorciada Água Branca (OUCAB). Injustificável porque já tem terrenos, tem pessoas que esperam, tem recursos, se não para todos os projetos para parte deles, e mesmo assim a efetivação das obras parece ser atropelada como se não fosse prioridade.

Essa semana foi publicado o adiamento da licitação da elaboração de projeto executivo e obras de 728 unidades de Habitação de Interesse Social. Sem nova data prevista para sua retomada. E esse é só um caso na cidade, na nossa região. Não é difícil encontrar outros.
De que adianta tirar pessoas que vivem em locais de risco se não existe a capacidade de atendê-las em um prazo minimamente adequado? Se evita uma tragédia imediata, que é sim dever dos órgãos públicos, para fazer da desigualdade, pobreza e violência algo estrutural em nossa sociedade.

Também tivemos a divulgação pela Secretaria de Segurança Pública das estatísticas das ocorrências de dezembro de 2021, consolidando os dados do ano. Se por um lado foi notada a queda de crimes violentos, como homicídios dolosos, os roubos e furtos só parecem aumentar. Não cabe aqui usar o exemplo de exceção, da pessoa que viveu à margem da sociedade e mesmo assim sempre foi correta. Delitos acontecem menos pelo caráter das pessoas e mais pela necessidade.

Vivemos em uma cidade com urgências em todos os departamentos e se engana quem pensa que isso não é problema seu. O ônus é de todos.

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