A São Paulo que descobri aqui

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Em minhas tantas incursões jornalísticas pela cidade, São Paulo já se apresentou a mim sob as mais diversas facetas. Ainda no início da profissão, lá pelo final dos anos 80, descobri, entre amedrontada e triste, uma cidade que pode ser extremamente cruel e socialmente injusta, alimentando o crime em crianças de 11 ou 12 anos largadas na Praça da Sé, no centro antigo, ‘batendo’ carteiras para poder comprar o que comer. Com o gravador em punho, peguei o depoimento delas – sem antes, é claro, pagar um sanduíche a cada uma – e descobri em suas falas ‘sem freios’ uma revolta pueril contra o sistema: “Moça, nós roubamos porque ninguém dá nada prá gente, na Febem a gente apanha, não dá prá ficar”, afirmaram três rostos infantis, falando sobre a antiga instituição cujo objetivo seria reinserir esses menores infratores na sociedade.

Anos mais tarde, já trabalhando na editoria de Cidades do jornal O Estado de S. Paulo, fiquei com água na altura da cintura, em um dos dias mais chuvosos que a cidade já viu. A enchente, além de parar o trânsito, invadiu casas e estabelecimentos comerciais próximos de onde se localiza hoje o Shopping Bourbon, na Pompeia, levando desespero a muitos moradores e trabalhadores locais que eu tentava, a duras penas, entrevistar. Em meio aos acenos dessas pessoas, presas em telhados e nas janelas dos sobrados a espera do socorro do Corpo de Bombeiros, descobri uma São Paulo que destrói e isola devido à falta de investimentos em infraestrutura.

Mas foi alguns dias atrás, aqui mesmo ao lado de onde eu moro, na Vila Leopoldina, que percebi, com o coração alegre e emocionado, que esta cidade também sabe acolher e dar oportunidades a quem se propõe mudar de vida. No Centro de Acolhimento Zancone, na Avenida Imperatriz, conheci o sr. Abdalla. Distinto no falar e bem vestido, ele me contou com orgulho que está prestes a abrir uma empresa em sociedade com o filho, que virá do Interior para morar com ele. Isso graças ao trabalho que conseguiu encontrar depois de fazer um dos cursos do SENAC oferecidos aos moradores de rua que frequentam o albergue. “Não foi fácil” – disse – “mas eu tive a sorte de encontrar pelo caminho pessoas boas, que me ajudaram e acreditaram em mim. Tanto, que até eu mesmo passei a acreditar!”

Se nem todos que passam pelo Zancone tem o mesmo destino feliz e conseguem sair de uma situação extrema de vulnerabilidade, vale registrar que São Paulo oferece, SIM, meios para que os menos afortunados alcancem um lugar ao sol. Basta, para isso, escolher o caminho do bem e não desistir. Afinal, estamos na cidade que não descansa, onde sempre é hora de trabalhar.

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