Comércios e empreendedores da região se adaptam à quarentena

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Foto: Divulgação

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Massas Mordini da Rua Monteiro de Melo passou a fazer entregas na região

As medidas de isolamento social e fechamento do comércio tiveram grande impacto para os negócios de forma geral e muitos comerciantes já anunciaram que não vão conseguir retomar suas atividades com o fim da quarentena.

Alguns estabelecimentos conseguiram se adaptar, expandir sua atuação e encontrar oportunidades para manter o serviço durante esse período. Um dos segmentos que teve maior chances de se manter foi o da alimentação, afinal todos precisam comer e em tempos em que as pessoas estão em casa, angustiadas com todo o panorama da Covid-19, cometer autoindulgências alimentares é quase inevitável.

Arthur Rosenthal, responsável pelas lanchonetes Yalinha e Criminal Burguer, na Vila Leopoldina, conta que já tinha planos de expandir o serviço de delivery antes da pandemia ser declarada. “Já tínhamos um projeto enorme de delivery para esse ano, com entrega própria e recebendo pedidos por outros canais de venda. Estávamos organizando isso dez dias antes de começarem a falar de coronavírus no Brasil”, conta.

Ele conta que mesmo sem as vendas no salão dos restaurantes, os clientes aderiram à opção de take away, além de pedir por telefone e aplicativo. “No iFood que é o único marketplace que utilizamos os pedidos aumentaram em 50%. Se mantiver dessa maneira é bastante interessante para nós. Também estamos em um bairro onde esse tipo de alimentação de lazer se manteve, então não podemos reclamar”, afirma.

Para Rosenthal, o diferencial para ter sucesso no delivery é apostar na qualidade do serviço. “Temos uma recorrência muito grande. Para mim está claro que delivery não é apenas o produto, mas o serviço. Tem muita coisa boa à venda por aí, embora os concorrentes na área de gastronomia não sejam tão vastos quanto se imagina, mesmo que estejamos em São Paulo, mas é fácil vender alimentos similares. A diferença realmente fica no serviço e na experiência do consumidor”, diz.

O empresário acredita que bons resultados irão surgir com o fim da pandemia. “Estamos nos mantendo com o faturamento um pouco menor e tem também a base de custos do delivery que é maior, então a gente não entrou nessa batalha para ganhar, não estamos visando muito o lucro nesse momento, nem gerar caixa, mas sim manter os empregos e já pensando em até contratar mais gente e não deixar fornecedores e parceiros na mão. Infelizmente muitos foram impactados, muitos não fizeram os movimentos na hora certa ou não tinham um produto que se adequava bem ao delivery. Boto muita fé que em 45 dias a gente não deve falar em medidas tão agressivas de lockdown. Na nossa região, a renda per capita é alta, as pessoas têm sim suas economias, conseguem trabalhar home office, não estão tão impactadas financeiramente. Pensamos em um momento pós-pandemia, onde a gente vai ter um leque enorme de clientes que gostaram da nossa experiência de consumo. Estamos fidelizando eles. Não acho que o consumidor vai voltar de imediato, a venda no salão não vai ser o que era, mas no delivery vai ser alta sim, talvez com menos clientes que podem gastar R$ 45 ou R$ 50 em uma refeição de lazer. A gente se adaptou rápido. Vamos conduzir o barco no meio da tempestade e continuar navegando no oceano mais azul quando isso acabar”, relata.

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Equipe do Yalinha e Criminal Burguer

Ampliar o delivery e cortar despesas foi a solução encontrada para a rede de restaurantes composta por Villa Lucco, na Vila Romana, Famiglia Lucco, Kai Sushi e Number One Burger, os três na Rua Pio XI. “Com todo mundo fazendo delivery, passa a ter uma concorrência de preço muito forte. Tivemos que nos especializar nos custos para oferecer o produto de qualidade que sempre oferecemos e ter lucratividade, seguindo sempre a orientação da OMS. Temos gastos grandes com embalagens, EPIs de funcionários, motoqueiros, fora que os aplicativos hoje te esmagam, é uma concorrência muito desleal. Eles trabalham com dark kitchens que chegam a oferecer comida a R$ 1, feita por pessoas que usam sua própria cozinha. É complicado concorrer com isso quando se tem custo fixo e impostos”, explica Milene Valente Luco, responsável pelos restaurantes cujo aumento do delivery, que já existia antes da pandemia, foi de cerca de 20%.

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Restaurante Villa Lucco

Sobre os custos, muitas negociações foram feitas para manter a operação. “O governo demorou muito para dar ajuda com a folha de pagamento, mas ela veio através do Fundo de Amparo ao Trabalhador. Hoje temos 70% da nossa equipe com contrato de suspensão de trabalho, o governo permitiu fazer isso por 60 dias. Como nossas casas são grandes, suspendemos o trabalho de copeiros, manobristas, seguranças, garçons, e mesmo a equipe de cozinha foi reduzida, assim como o horário de trabalho e funcionamento. Teve uma queda expressiva de contas como luz, água e gás, outra coisa que o governo não sinalizou ajuda. A gente deixou de pagar uma ou outra conta e veio o aviso de corte. Tivemos que se virar para pagar. Para os impostos não teve ajuda, mas prorrogou, então estamos nessa batalha para pagar tudo lá na frente como todas as pessoas. O aluguel nós conseguimos negociar, março pagamos 50% porque trabalhamos meio mês de fato e abril pagamos 40%. Como estamos estabelecidos há muitos anos, os senhorios entenderam que nós sempre fomos bons pagadores então a negociação foi fácil. Tivemos que cancelar alguns contratos como os das máquinas de café e de lavar pratos”, conta Milene.

A empresária defende que os restaurantes permaneçam fechados até o momento que seja possível retomar a operação em sua totalidade. “Não acho que vamos voltar a funcionar antes de junho e acho que a gente nem deve mesmo, porque não adianta abrir, ter todo o custo fixo de volta e o cliente não se sentir seguro para frequentar. O governo deu essa ajuda de 90 dias, então durante esse período é melhor permanecer fechado mesmo”, finaliza.

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Number One Burger

Outro negócio tradicional que teve que se adaptar é a loja Massas Mordini, localizada na Rua Monteiro de Melo que existe desde 1968. A casa de massas frescas nunca teve consumo no local e os clientes compram os produtos para preparar em casa. “Não tivemos tantas mudanças, a única coisa é que passamos a fazer entrega pela região por conta própria e também começamos a utilizar a entrega de aplicativo. Temos uma clientela já antiga, mas o movimento diminuiu um pouco porque muitos vinham na loja comprar. Não podemos reclamar, estamos funcionando quase que normalmente, com menos gente porque temos funcionários idosos que estão afastados”, explica Sandro Mordini.

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Massas Mordini

O WhatsApp também foi, se não a solução, uma grande forma de auxílio, para empresários e empreendedores menores divulgarem seus produtos e serviços em grupos, como o “Quarentena Alto da Lapa” que conta com 256 participantes.

A empresária Liz Cucci, que administra o grupo, explica que ele foi criado para encontrar serviços e produtos no início da quarentena. “Na verdade foi a vontade de ajudar em algo  e também por estar precisando de uma lavanderia e tudo estar fechado! Aí tive a ideia de criar o grupo e divulgar. Não tínhamos álcool em gel, máscaras e luvas disponíveis na época, então além de ajudar os pequenos comerciantes do bairro conseguimos nos ajudar também, um indicando ao outro onde encontrar álcool em gel, etc. Hoje o grupo é um sucesso! Já experimentei vários serviços e indico vários. Já tivemos até uma psicóloga oferecendo ajuda gratuita aos participantes. Montamos um grupo bem bacana. Nesse momento triste que estamos passando todos devemos nos ajudar e nos cuidar. Fico muito feliz em ajudar”, afirma Liz.

Segundo a Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp) nos primeiros quatro meses de 2020, 26.595 empresas foram encerradas no Estado de São Paulo. Porém, no mesmo período, 56.918 foram abertas, resultando em um saldo positivo de 30.323 novas empresas. No mesmo período de 2019, 29.106 empresas foram encerradas e 57.504 foram abertas. Durante todo o ano passado, a Jucesp registrou a abertura de 222.699 empresas, o maior recorde de abertura da história do Estado de São Paulo nos últimos vinte anos.

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