O triste fim de uma lenda

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Escudero (3º a partir da esquerda): homem polêmico que deixou um legado

O triste fim de uma lenda

A pergunta mais ouvida nestes últimos anos nos encontros da comunidade foi: Onde está o Escudero? O controvertido, polêmico, atuante e empreendedor Antonio Carlos Escudero repousa, desde as 12 horas do último domingo, dia 19, na quadra D, rua 37, jazigo 3450-D do Cemitério Parque Jaraguá.
Isolado e recolhido, acometido de profunda depressão, mantido à base de medicamentos, ele teria, segundo fontes ligadas à família, ingerido, na quarta-feira dia 15, uma caixa desses medicamentos cuja recomendação médica era de um comprimido diário. Atendido no Pronto Socorro do Hospital das Clínicas no dia 15, ele foi liberado no dia seguinte, 16. Com nova crise no sábado, dia 19, deu entrada às 14h no Pronto Socorro da Lapa onde faleceu às 16 horas. Seu enterro, cercado de absoluto sigilo, foi acompanhado pela mãe, pelo filho, pela ex-esposa, pela atual companheira e por um casal amigo de longa data. Ao todo seis pessoas.

História

Antonio Carlos Escudero foi, pelo menos por uma década, uma das mais poderosas e influentes pessoas da comunidade local. Criou e comandou a Rede A de Jornais de Bairro, que chegou a ser um dos mais importantes grupos de comunicação regional da América Latina.
Empresa que no auge, em meados da década de 90, chegou a faturar cerca de seis milhões de dólares anuais, empregar diretamente por volta de 150 profissionais, e distribuir gratuitamente 12 jornais de bairro, com uma tiragem semanal de mais de 110 mil exemplares, além do Guia de Empregos, com tiragem de 80 mil exemplares, vendidos em bancas em toda Grande São Paulo.
Mergulhada numa crise financeira e administrativa, provocada pela demissão, em 1977, de quase toda diretora e seus principais gerentes, a Rede A fechou suas portas em janeiro de 2002, com um calote estimado em R$ 20 milhões, entre dívidas com bancos, fornecedores, impostos e mais de duas centenas de ações trabalhistas.
Uma prova do potencial da empresa extinta pode ser medida pelo número de outras empresas geradas por profissionais que um dia fizeram parte do seu efetivo, entre elas a própria Página Editorial, responsável pelo Jornal da Gente, a editora do jornal Nosso Bairro, a Editora Flamboyant que edita o Guia Novo Emprego, o Jornal Vidaqui na Vila Mariana, a Revista Viu! em Porto Feliz no interior do estado, além de outras pequenas empresas ligadas a área de editoração, impressão e distribuição.

O educador

Escudero também foi um empreendedor na área de educação, sendo um dos criadores do Flamingo 2001. Um curso preparatório para exames de madureza e depois supletivos, que chegou a preparar na década de 70, mais de 2500 alunos por mês. Um dos seus ex-sócios mantém ainda hoje, a continuidade do Flamingo, agora atuando prioritariamente com cursos superiores.
Além disso, Escudero trabalhou com o matemático Oswaldo Sangiorgi, na implantação dos telecursos da TV Cultura.

Testemunhos

O diretor do Jornal da Gente, Ubirajara de Oliveira, analisa a personalidade do homem com quem trabalhou 25 anos na Rede A de Jornais de Bairro. “Escudero tinha uma característica a se destacar na sua personalidade: era a obstinação, a persistência com que perseguia seus objetivos e, conseqüentemente, aqueles que considerava seus inimigos. Ele tinha uma grande inteligência intuitiva que aliada a má informação, a exemplo da história de grandes líderes, se revelou extremamente danosa. Não é à toa que seu grande inspirador era Átila, um homem de 1,20 metro de altura que se tornou rei dos Hunos aos 25 anos de idade e fez ajoelhar os maiores e mais poderosos impérios no século V”, comenta.
Bira também faz um balanço de seu convívio de 25 anos com Escudero. “Foi um grande aprendizado com saldo altamente positivo apesar de nossos pontos de vistas terem se distanciado a tal ponto que não foi possível continuarmos trabalhando juntos”, conclui Bira.
No último dia de vida de Escudeiro, o presidente do Conselho das Sociedades Amigos de Bairro da região da Lapa, José Benedito Morelli, o Boneli, conta que viu quando ele saia de sua casa na Rua Mercedes. “No sábado, eu sai da CET e subi a Mercedes. Vi o Escudeiro saindo barbudo com uma mulher loira. Ele entrou no carro, ela ligou o motor e saiu”, disse Boneli.
O dono do Colégio Santo Ivo, José Carlos de Barros Lima, lembra que nos bons tempos da Rede A, Escudero foi uma pessoa muito ativa e com muito fôlego.
Ele lembra que como personalidade, Escudero era uma pessoa contraditória, comparando-o a Assis Chateaubriand, fundador dos Diários Associados. “Realmente a gente sentiu muito quando a Rede A de Jornais parou. Escudero foi uma pessoa contraditória. Ele construiu muito, mas também destruiu”, analisa o dono do Santo Ivo.
O chefe do Estado Maior do Comando de Policia Militar da área 5, tenente coronel da Polícia Militar Luiz Nakaharada, Escudero foi uma pessoa que procurou a integração do lapeano. “Ele não tinha noção do bem dizer ou mal dizer. Isso fez ele se amargurar com ele mesmo. De repente, Escudero se decepcionou. Acabou amargurado, abandonado”.
O Coronel acrescenta que a proposta dele era de agregar as pessoas da Lapa. “Em determinado momento, nós sentimos a nossa ausência para com ele”.
Nakaharada conclui que Escudero era uma pessoa que falava no plural. “ Nós lamentamos a morte dele num momento de nossa ausência para com ele”.
Um dos antigos amigos do dono da Rede A foi Décio Ferreira, presidente da Sociedade Amigos da Lapa de Baixo. Para Décio, Escudero foi um idealista. “Um homem que sempre quis projetar a Lapa, por meio do seu jornal. Era um amigo das sociedades amigos de bairro”.
Para o presidente da Salb, Escudero foi uma pessoa útil e polêmica, arregimentando muitos amigos e também inimigos. Segundo Décio, para a Lapa foi muito útil. “Escudero atingia as autoridades sem medo. Quando ele inaugurou o prédio do jornal na Barão de Jundiaí, organizamos a primeira corrida pedestre da Lapa, no dia 14 de outubro de 1990”.
Outro fato do qual Décio irá esquecer, foi Escudero quem incrementou uma festa em comemoração aos cem anos de sua mãe. “Ele colocou no jornal. Nós fizemos uma festa para ela numa praça de esporte. Ele emprestou aquelas mesas grande onde se separava os jornais. Na igrja ficou gente para Dora e a praça de esportes ficou lotada. Isso a gente não esquece. Éramos amigos, inclusive ganhei um relógio de pulso, que ele mandou fazer e distribuiu para algumas pessoas”

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