Sábado tem feijoada

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O paulistano, há tempos, já incorporou uma tradição que se repete na Lapa e vizinhanças: a feijoada aos sábados, motivo mais do que suficiente para um encontro entre amigos ou em família, seja em casa ou em restaurantes.
A origem da feijoada é motivo de controvérsias entre os especialistas. Muitos acreditam que ela é uma herança dos escravos. No Brasil colonial boa parte da população passava fome. No caso dos cativos a situação era ainda pior. Comentam os viajantes que boa parte dos escravos recebia unicamente feijão cozido, servido em cuias, uma vez ao dia. É provável que a origem esteja ligada à triste sina desses homens que, a fim de engrossar o caldo ralo, buscavam no lixo de seus senhores as partes desprezadas do porco: língua, rabo, pés e orelhas.
Outros dizem que o prato vem da cozinha lusitana. Em Portugal, feijões de vários tipos, exceto o preto, eram misturados a lingüiças, orelhas e pés de porco – conservados na própria banha do animal – e acrescidos de verduras como o couve. Lenda ou realidade, o fato é que a feijoada tem hoje cara e gosto de Brasil. “Adoro feijoada, e eu mesma costumo prepará-la”, afirma Conceição Pernicone, 69 anos moradora da Vila Leopoldina. “Tenho um filho que mora no interior. Sempre que ele vem me visitar pergunta: e aí mamãe vai ter feijoada?”.
No preparo, ela toma o cuidado de dessalgar bem os pertences, de modo a ressaltar o sabor da carne seca, lingüiça, paio, costelinha de porco etc. “Deixo tudo de molho e troco a água várias vezes”, conta dona Conceição. “Se para mim é um prazer preparar e cozinhar a feijoada, meu filho Carlos Eduardo não abre mão de fazer a caipirinha”.Mas nos hábitos dos Pernicone nada é rígido, e a família também sabe saborear a feijoada em restaurantes. “Temos os nossos lugares de preferência. São aqueles onde a feijoada não é salmoura pura e nem fica nadando na gordura”, concluiu dona Conceição.
O feijão preto é uma unanimidade nacional desde os tempos coloniais. Um viajante europeu chamado Carl Seidler, em 1826 disse o seguinte: “O feijão, sobretudo o preto, é o prato predileto dos brasileiros; figura nas mais distintas mesas, acompanhado de um pedaço de carne seca ao sol e toucinho à vontade.Não há refeição sem feijão. É nutritivo e sadio, mas só depois de longamente acostumado sabe ao paladar europeu, pois o gosto é áspero, desagradável”. Os europeus estranhavam o sabor porque só conheciam as favas, lentilhas e ervilhas, todas “aparentadas” do feijão.

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