Villas Boas: entrevista fora de contexto

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O lapeano Orlando Villas Bôas, falecido em 2002, tem sido lembrado, ultimamente, conforme publicado pelo JG, quando o assunto é o debate em torno da demarcação de divisas indígenas na Amazônia. A respeito desse tema, Noel Villas Bôas, filho do maior indigenista brasileiro, escreveu ao JG esclarecendo o posicionamento do seu pai.
“Muito oportuno lembrar as palavras de meu pai, Orlando Villas Bôas, nesse período agitado da política indigenista. No entanto, é preciso fazer um escla-recimento. O trecho da entrevista feita pela jornalista Paula Saldanha, que tem sido divulgado na Internet, está deslocado do contexto original que lhe dá sentido. A verdadeira preocupação de meu pai, manifesta nessa entrevista, era com relação às inúmeras ONGs de caráter duvidoso que estavam (e estão) atuando em território indígena assumindo prerrogativas da FUNAI. A problemática indígena é questão que se refere somente à competência do Estado.
Pensar que o sertanista Orlando Villas Bôas poderia ser contra a demarcação da reserva Ianomâmi beira o absurdo. É aconselhável lembrar a política dos Irmãos Villas Bôas, qual seja, a da demarcação de grandes reservas indígenas. A primeira grande reserva indígena brasileira, o Parque Indígena do Xingu, foi criada pelo Orlando, Cláudio e Leonardo Villas Bôas com apoio de grandes nomes como Noel Nutels e marechal Rondon, dentre outros. Aliás, foi a bem sucedida experiência do Xingu que desencadeou todo o processo das grandes demarcações que aconteceram depois.
Por fim, interpretar este trecho de entrevista de um minuto e meio como uma postura semelhante àquela do Gen. Heleno ou, mais recentemente, à do general Luiz Gonzaga Lessa implica invariavelmente no total desconhecimento da política dos Villas Bôas ou interpretação equivocada das palavras de Orlando Villas Bôas que via o desrespeito às terras indígenas como causa da desagregação tribal levando inevitavelmente à perda da cultura desses povos. Cabe lembrar que a palestra do Gen. Gonzaga Lessa revelou uma postura diametralmente oposta àquela defendida pelos Villas Bôas no que diz respeito a: política indigenista, graus de aculturação dos povos indígenas brasileiros, território indígena e respeito à cultura desses povos. A integração rápida e forçada, sugerida pelo general nunca foi opção para a política indigenista de Orlando e seus irmãos. Aliás, postura semelhante à do Gen. Lessa foi energicamente combatida pelos irmãos Villas Bôas, na década de 1970, quanto o Gen. Oscar Jerônimo Bandeira de Mello, na presidência da FUNAI, defendia a integração forçada do índio à nossa sociedade atendendo, na época, a política de integração nacional do Presidente Médici”.

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