Crônica de Nereu Mello

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Nereu Mello

Em 1945 acabou a guerra: Hitler suicidou-se, Mussolini foi trucidado e a bomba atômica pulverizou Hiroshima e Nagazaki.

No Brasil, Getúlio foi deposto, mas foi eleito senador, sendo eleito para a Presidência o seu candidato, o General Dutra, contra o Brigadeiro Eduardo Gomes. Em suma: “tudo como dantes, no quartel de Abrantes”.

Eu dava aulas particulares e vivia em cima dos livros para estudar e lecionar. A vida abria uma porta para mim! O meu mundo era o mundo das palavras: aulas particulares para ginasianos. Ganhava a vida. Pregava o Evangelho, ensinava na Escola Dominical e discursava nos comícios pro Brigadeiro. Eu tinha, então, o dom da palavra e, com base no curso de oratória que o pastor da igreja dera, tornei-me um argumentador lógico. Brilhava nos concursos de oratória e nos debates culturais, transmitidos pela PRA 7, a rádio de Ribeirão.

No Colégio, eu estava entre os melhores alunos. Continuava pobre: poucas roupas, poucos livros, não tinha bons sapatos, mas tinha uma boa cabeça! Há fortuna maior? Eu era moço! Há maior riqueza? A vida era uma clarinada matutina. Eu não tinha medo: certa vez entrei em debate com Di Cavalcanti e eu tive o topete de dizer a esse imenso artista que a arte dele era regionalista e, por isso, padecia de universalidade. Só mesmo um moço metido a culto podia ter tal desplante. Ele respondeu: “A arte é conceito abstrato”, e pôs sentido nas palavras. No fim, me cumprimentou e me abraçou! Que gloria! Hein?

Contudo, o Pastor me disse: Nereu, você não serve para ser Pastor, porque você joga com as palavras, não serve para ser pastor… Vá para a Faculdade de Direito…

Como? Eu? Advogado?

E, agora, Nereu? Sozinho em São Paulo, uma cidade de 1.200.000 habitantes? É uma grande batalha, meu rapaz! Vencer ou morrer!

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