Livro avalia impactos sociais das políticas de austeridade

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Foto: Bárbara Dantine

Bárbara Dantine
Lacerda e Dowbor no lançamento do livro “O Mito da Austeridade”

Morador da Vila Leopoldinda, doutor em economia e professor, Antônio Corrêa Lacerda lançou na quarta-feira (4) o livro “O Mito da Austeridade”, na Livraria da Vila. A obra contém textos do também morador da Lapa Ladislau Dowbor, Mariana Jansen, André Paiva e Andre Campedelli, que participaram de um painel durante o lançamento.

O livro questiona e critica a visão de realizar “ajustes” a qualquer preço e os malefícios que as políticas econômicas de austeridade provocam, ainda mais em um país como o Brasil, onde a maior parte da população não tem dinheiro nem para consumir, nem para investir. Um dos capítulos traz uma análise sobre a Emenda Constitucional nº 95, conhecida como “teto de gastos” e suas consequências para a economia brasileira.

Para os autores, a austeridade econômica atrapalha as políticas sociais, levando a uma piora da qualidade de vida de grande parcela da população, da mesma forma que o combate à inflação se deu penalizando a classe trabalhadora. “No Brasil temos trabalhadores querendo maiores salários e empresários querendo maior lucro, o que naturalmente gera um conflito. O Banco Central realiza o controle inflacionário via salário e em um panorama de desemprego elevado como o nosso, isso reduz o poder de barganha dos trabalhadores e a renda salarial piorou muito, sem contar que os preços da gasolina, luz, gás, continuam subindo”, afirma o Professor Lacerda.

Lacerda também defende a importância de promover políticas econômicas anticíclicas, que preveem que em períodos de recessão, o governo deve intervir, reduzindo tributos, promovendo a expansão do crédito e o aumento dos gastos, para estimular a economia. “Precisa investir o dinheiro público em políticas sociais que são justamente as que são cortadas em nome da austeridade”, diz.

Ladislau Dowbor, doutor em Ciências Econômicas pela Escola Central de Planejamento e Estatística de Varsóvia, e professor da pós-graduação da PUC de São Paulo, escreveu um artigo para o Jornal da Gente em fevereiro de 2018, sobre a importância do dinheiro público ser gerido de forma local, pela própria comunidade interessada, e reiterou esse discurso, considerando as eleições municipais de 2020. “Temos 20% do PIB tirado pelo sistema de intermediação financeira por gente que não produz nada, apenas extrai, e isso paralisou o país. Em termos de desenvolvimento urbano e local, a coisa é estrutural. Se você pensar na Suécia, que tem uma carga tributária mais elevada que a nossa, da ordem de 50% do PIB, mas 72% vai direto para as esferas locais, para os municípios, ou seja, as cidades têm muito mais recursos para se organizar em termos de eventos culturais, urbanização, saneamento básico. A política no sentido amplo é essencialmente aplicada na base da sociedade, portanto controlada diretamente pelas organizações de bairro, da sociedade civil, ONGs, etc. Aqui 34% do PIB referente à tributação é repassado em grande parte para os bancos, isso em forma do serviço da dívida pública. Fica extremamente difícil avançar com uma política participativa, de desenvolvimento local com essa estrutura. Somos um país de 5.570 municípios, como querer que um ministro entenda os problemas específicos de mais de cinco mil cidades? Vamos entrar em um ano eleitoral, com eleições municipais, e o resgate da capacidade das comunidades cuidarem do seu futuro pode ser um grande eixo de propostas para o ano que vem”, afirma Dowbor. O livro “O Mito da Austeridade” foi publicado pela Editora Contracorrente.

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