Reconciliação

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O autor britânico China Miéville escreveu o livro de ficção “A cidade & a cidade”, uma história de suspense envolvendo o assassinato de uma mulher e sua decorrente investigação que se passa em duas cidades completamente distintas. Cada uma tem sua moeda, idioma, hábitos, departamentos de governo, mas elas ocupam em parte de seu território o mesmo espaço geográfico. Quem se encontra nesses lugares de intersecção não pode, por lei, prestar atenção no que se passa na cidade que não é a sua. É utilizado o termo “desver” para ignorar a realidade alheia.

Se a ficção permite esse tipo de fantasia, a vida real não é assim. Não podemos fechar os olhos para aquilo que afeta a todos, para o que não queremos ver ou aceitar. Não podemos ignorar que a eleição que ocorreu no domingo confirmou o que já sabíamos: estamos completamente divididos como sociedade. Praticamente metade da população celebrou o resultado das urnas e a outra metade lamentou, com alguns grupos inconformados que realizaram protestos para questionar o processo eleitoral, pedir intervenção federal ou militar e demonstrar sua indignação. Tivemos exemplos de manifestações pacíficas, mas também aconteceram as prejudiciais.

A liberdade de expressão e os protestos pacíficos são parte do jogo democrático. A violência e a tentativa de derrubar as regras vigentes não são. O conflito está em toda parte. A divisão está nos bairros, nos condomínios. Famílias que brigaram, amizades desfeitas. Até nos grupos de vizinhos, cujo objetivo é ter segurança e informar atividades que acontecem nas ruas, o debate aparece.

Isso não poderá continuar para sempre. Uma reconciliação precisará ser feita. Cada um com o seu lado, sua opinião, mas lembrando que independente das preferências pessoais, é preciso encontrar o denominador comum que permita a convivência. Não existe nada de produtivo em manter a discórdia, em disseminar informações falsas só porque sua narrativa é conveniente, espalhar o ódio pelo outro lado. Se queremos civilização, precisamos ser civilizados.

A tentativa de encontrar a boa convivência é o que está em andamento entre o Allianz Parque e seus vizinhos. Criar uma consciência sobre sustentabilidade, cidadania e comunidade é o que teremos na Praça John Lennon com o evento do programa Escolas do Bem para crianças. Precisamos pensar qual o exemplo que estamos dando para as próximas gerações. Precisamos ser um modelo a seguir. Que esse exemplo seja o do diálogo, nunca o da violência.

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