No Carnaval, ‘a Lapa somos nóis’. Sempre!

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O lapeano é um ‘povo’ que gosta de Carnaval – e de usar o pretexto da diversão para formalizar uma ‘boa’ crítica em forma de marchinha, abadá ou carro alegórico. Isso desde os primórdios da formação do bairro, lá pelos idos de 1900, quando nem o cemitério existia ainda.

Puxando pela memória do bairro no arquivo do Jornal da Gente, descobri alguns ‘causos’ e histórias divertidas ligando os moradores daqui à maior festa popular do Brasil que expõem o tom espirituoso do lapeano e valem a lembrança.

Um deles aconteceu no Carnaval de 1916. A Lapa, na época, reivindicava um cemitério na região. E isso era tema de conversas, debates e até mesmo piadas em diversas rodas de moradores, segundo relata em um artigo um antigo morador chamado Antonio Pereira Marques Neto.

Ligada à política, a família Pereira Marques pressionava o então prefeito de São Paulo, Washington Luis, a destinar uma área e a aprovar recursos para a construção de ‘tão requisitada’ obra, importante porque à época a cidade sofria uma epidemia de gripe espanhola e, com um grande número de vítimas, a Lapa não tinha onde enterrar seus mortos.

O tempo passava e o pedido, no entanto, seguia sem resposta. Até que chegou o Carnaval. Reunidos em bloco, os lapeanos então decidiram sair às ruas, em protesto bem humorado, ostentando um carro alegórico com o tema ‘Um morto procurando sua cova’. Se foi por influência da alegoria não se sabe, mas fato é que, tempos depois, os moradores conseguiram do prefeito – finalmente – a transformação da área da antiga Encosta das Goibeiras no que é hoje o atual Cemitério da Lapa.

Bem mais recente, já neste século, a criação de outro bloco de rua colocou a região no circuito oficial do Carnaval paulistano. O ‘A Lapa somos nóis’, criado em 2001 pelos líderes comunitários (já falecidos) Décio Ferreira e José Benedito ‘Boneli’ Morelli, animou, durante vários carnavais, a Rua 12 de Outubro e imediações, reunindo famílias inteiras – jovens, pais, filhos e os mais idosos – em uma confraternização saudável.

Mas como nada vem ‘de graça’ – nem mesmo a brincadeira de confete e serpentina -, não foi fácil para os moradores conseguirem da prefeitura autorização para os desfiles, pois não havia na época, ainda, regulamentação específica para o Carnaval de rua na cidade. Foi preciso muito empenho de Boneli, Décio e companhia junto à CET e subprefeitura para que o ‘A Lapa somos nóis’ pudesse desfilar, resgatando marchinhas tradicionais e sambas-enredo das escolas da região, entre elas Império Lapeano e Rosas de Ouro.

Hoje, passado o impacto do lockdown imposto pela pandemia, é momento de resgatar essas raízes que fazem parte da memória dos lapeanos. Vamos aproveitar, então, para festejar. Deixar os problemas ‘prá’ lá e viver intensamente a alegria desses quatro dias de folia!

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