Velho, meu querido velho

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Nereu Mello

Meu velho, meu querido velho, veja-o alquebrado e cheio de dores, tentando movimentar as pernas com o auxílio de uma velhíssima bengala, que eu não sei onde você foi achar. O seu boné está tão velho quanto você e cobre a coroa de cabelos branquíssimos como algodão, que ainda lhe circundam a velha cabeça. Eu sei: você tem frio sempre e o boné é necessário, senão o resfriado ou a gripe não vão deixá-lo em paz. Os passos são lentos e os pés parecem de chumbo e vão tropeçando em tudo.

Velho, meu querido velho, no entanto você vai em frente. Vejo-o no shopping, de braços dados com a velhinha com quem você fala e ri. Sentados à mesa, ela sempre fica vigiando se você come direito, se não deixa cair migalhas por toda parte. Ela faz com jeito e carinho, porque você pode irritar-se um pouco e dizer: – Ei, menina. Você pensa que sou um garoto para você me ensinar a comer? Ela certamente responde, com aquele sorriso eterno de mocinha linda: – É isso aí, você é mesmo aquele garoto desleixado de sempre. Não adianta, desde que você não babe!

O velho sorri largo e seus dentes brancos e em ordem não combinam bem com a cara encarquilhada. O velho fez implantes e tem orgulho de poder comer de tudo. Ele diz que os dentes são seus porque ele os pagou ao seu dentista.

Meu velho, olho para você e não vejo nem tristeza, nem abatimento. E vejo que você transformou a sua fraqueza em força. Você exige o respeito que merecem esses seus oitenta e tantos anos. Você conhece a lei do idoso e exige a preferência que, na maior parte das vezes, lhe é conferida pelos belos jovens. E você tem a bengala!

Então, meu velho, meu querido velho, não é boa a velhice?

Ah! Filho, a velhice é boa, mas que saudade eu tenho da mocidade! “Oh! caneta mágica, oh! papel liso, trazei-me de volta a minha juventude” (O Egípcio).

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