Quantas coisas fizemos literalmente mil vezes? Muitas acontecem de forma automática, fazem parte do cotidiano e nem contabilizamos. Já dormimos, tomamos banho, comemos, piscamos, trabalhamos, entre tantas outras ações diárias que repetimos muito mais de mil vezes.
Mas quando falamos de uma publicação, chegar ao número mil é um marco muito importante. Por mil vezes contamos histórias que interessam a uma comunidade bastante expressiva. Afinal, somos mais de 300 mil moradores que vivem na mesma região e dividem mais do que um espaço físico. Somos impactados pelos mesmos problemas, usufruímos das mesmas áreas públicas. Podemos ser diferentes, ter opiniões opostas, mas pelo menos isso temos em comum. Vivemos juntos.
Nem sempre é fácil fazer o recorte de quais histórias destacar em uma semana, quando tantas estão acontecendo. Para além de informar, estamos documentando nossa vida como comunidade. Uma pequena nota de hoje pode, daqui cinco ou dez anos, ser o marco inicial de uma complexa mudança.
Não podemos dizer que é fácil. O jornalismo, de forma geral e ainda mais no caso de um veículo de bairro, é um trabalho de resistência e persistência. Ainda mais quando praticamente todos têm acesso à tecnologia e podem exercer a função de comunicadores. Citando o clichê mais usado da nossa área, nos cabe o ato de “separar o joio do trigo” ao evidenciar aquilo que se perde no mundo digital, bem como realizar um trabalho educativo que é imprescindível em tempos de fake news e conteúdos mal-intencionados.
Com a queda da publicidade (para veículos impressos grandes e pequenos), com as notícias selecionadas através do “julgamento” de um algoritmo que determina o que é ou não do nosso interesse, e com o comodismo que muitas pessoas têm ao não buscar mais de uma fonte de informação, o jornalismo dificilmente se paga nos dias de hoje, mas compensa.
Compensa ao sabermos que muitos moradores guardam com carinho edições do jornal que contaram a sua história. Compensa pelos casos que ajudamos, mesmo que com coisas pequenas como a remoção de uma lixeira que ficava abaixo da janela de uma moradora e causava transtorno. Compensa porque recebo mensagens, algumas por e-mail e outras por carta (tem quem dedica seu tempo e caligrafia para me mandar um recado e eu adoro), que falam do nosso trabalho, elogiam ou pedem ajuda.
Compensa porque estamos aqui, todas as semanas, fazendo um trabalho consciente de registrar os capítulos da nossa história. De forma imparcial, plural, crítica quando necessário e, sobretudo, com um sentimento de dever cumprido. Nossa Lapa e seus distritos não estão descobertos.