Justiça fora das redes

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Percebemos no mundo moderno uma relação cada vez mais ‘íntima’ e ‘forte’ das redes sociais com a questão da violência urbana e da criminalidade. Pelos aplicativos de celular, gangues de bandidos com acesso às mais sofisticadas tecnologias invadem contas bancárias e aplicam golpes cada vez mais criativos e ousados, roubando milhões sem se expor. Os cidadãos de bem, por sua vez, inseguros e com medo diante do aumento dos crimes, passaram a usar esses mesmos aplicativos como uma ‘arma branca’, um mecanismo de defesa e de desabafo, viralizando no Facebook, Instagram e nos grupos de WhatsApp vídeos e fotos com cenas de carros sendo roubados, bolsas arrancadas e casas invadidas.

A pergunta que se faz é: até que ponto toda essa exposição é benéfica e pode reverter em redução da onda de violência e criminalidade? Será que, ao publicar nas redes sociais que nós mesmos ou alguém que conhecemos foi vítima de assalto, roubo ou furto, estamos ajudando outros a se prevenirem e se defenderem? Ou, mesmo tendo a melhor das intenções, agindo assim contribuímos para gerar uma sociedade cada vez mais paranoica, mas que continuará a ser igualmente violenta? Porque afinal, se pararmos para pensar, a propensão à violência e à criminalidade é algo intrínseco à raça humana e, como homo sapiens, temos aprendido a conviver com nossa natureza belicosa desde o tempo das cavernas. A diferença, talvez, seja que nos primórdios da sociedade nos era permitido fazer justiça com as próprias mãos. Hoje não mais; estamos nas mãos da polícia e do Judiciário.

A julgar pelos índices de criminalidade na região da Vila Leopoldina e Alto da Lapa, que aumentaram no último ano, os esforços individuais dos moradores no sentido de tornar públicos os perigos por que passam no dia a dia, em suas casas ou nas ruas do bairro, não têm surtido efeitos práticos.

De acordo com os números divulgados pela Secretaria de Segurança Pública, em 2022 os furtos em geral cresceram 25% na região e os furtos de veículos aumentaram 16%. Mudar essa realidade requer menos a exposição nas redes sociais e o empenho redobrado do cidadão em cobrar do poder público maior comprometimento com a segurança em nosso município, agindo, ele mesmo, de forma mais vigilante e não hesitando em acionar a polícia quando há qualquer suspeita. Diante do crime e da violência, não podemos mais fazer justiça com as próprias mãos; nos resta, então, usar bem os instrumentos legais que temos a nosso dispor.

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