O comércio, com suas artimanhas, nos leva a pensar no Natal antes mesmo do Advento, essas quatro semanas que o antecedem.
No Advento a cor é o roxo e o tempo é de penitência. Porém, não
penitência quaresmal. Lá, é o arrependimento de quem sabia o que devia
fazer e não fez. Aqui, é a penitência da espera.
Imaginemos alguém que há cinco anos não vê a mãe. Ela mora lá no Norte.
Todo ano planeja visitá-la, mas não dá certo. Desta vez, é ela mesmo
que vem. O filho, desde que soube, não é mais o mesmo. O coração
acelerou. A família começou a preparar a casa: tudo tem que estar no
lugar quando ela chegar! A foto dos filhos, agora crescidos, nos
lugares mais vistosos. Tudo vai se transformando em acolhimento para a
querida visitante.
Aí nada mais tem o brilho costumeiro: nem música, nem diversão, nem
festas. Tudo é avaliado em referência ao encontro aguardado. Ai falta
ainda dez dias, cinco dias… como é cruel o tempo! Como custa a passar!
Não se consegue nem comer direito: gosto bom mesmo a comida vai ter,
festa pura mesmo vai ser, quando ela chegar, com seu sorriso, seus
abraços, seus afagos e se sentar junto à mesa.
Aquele filho não consegue nem dormir direito: acorda de noite, pensa no passado e ensaia frases para dizer-lhe.
Quem entender a comoção deste filho desde que soube que a mãe virá e
for capaz de transferir tudo em referência a Jesus, entrou um pouco no
espírito, no sentimento do Advento. E está ficando pronto para o Natal.
“Pode uma mãe… não ter ternura pelo fruto de suas entranhas? E mesmo
que ela o esquecesse, eu não te esqueceria nunca” (diz Deus em Is 49).
A afirmação mais corajosa, mais estupenda da Fé Cristã Católica é que
Deus, com a encarnação de seu Filho Jesus, quis amarrar sua felicidade
à nossa. Doravante, se um, unzinho dos sete bilhões de seres humanos
que vivem na face da Terra, ou que por aqui passaram, não for tão feliz
quanto pode ser, ele também, Deus Onipotente, gerente das estrelas e
das galáxias, Senhor do sol e da chuva, terá alguma sombra em sua
felicidade. Ele quis fazer a sua felicidade depender da nossa: “Tudo
que o que fizerdes ao menor dos meus irmãos, a mim o fareis” (Mt
25,40). Assim sendo, Feliz Natal!