Tragédia anunciada

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É fácil culpar a chuva pela destruição de casas e perda de vidas. Difícil é assumir que temos problemas sociais, habitacionais, orçamentários e políticos, isso passadas muitas gestões, e que faltam ações para resolvê-los. Existem intempéries que causam graves prejuízos, como terremotos e furacões, e aí sim nem sempre as pessoas e a estrutura das cidades em que isso ocorre estão preparadas para encarar esses fenômenos.

Mas uma chuva forte, mesmo acima da expectativa prevista para o período, não é algo tão incomum assim. Demorou bastante até o poder público executar as obras necessárias e cobradas por moradores da Pompeia, no entorno da Avenida Francisco Matarazzo, e com isso retirar as placas com os dizeres “Área Sujeita a Alagamento” que eram vistas na região. O investimento que previa resolver de vez o transtorno de motoristas, comerciantes, moradores e pedestres não cumpriu o que prometia, e um ponto que não deveria alagar mais ficou cheio de água na terça-feira (20). E o mais triste é saber que, além das pessoas que tiveram veículos e propriedades danificados, e da Prefeitura Regional que teve que mobilizar uma operação emergencial na região, essas obras custaram caro. Nosso dinheiro não foi bem utilizado.

E por falar em tristeza, nada é mais lamentável do que o fim de uma vida que mal começou. Mas quem é culpado pela morte de Sofia Gomes, de um ano e oito meses? A chuva acima do normal? O córrego que lá existe? As famílias que, sem opções, insistem em ficar no local mesmo sabendo se tratar de uma área de risco? Ou os governos que, ano após ano, priorizam os investimentos que julgam ser melhores para a cidade, fechando os olhos para questões que não devem ser ignoradas?

Este é um caso clássico da necessidade de saber distinguir o que é urgente e o que é importante. As urgências, quando surgem, atropelam tudo o que está no caminho, e requerem atitudes imediatas. A melhor forma de impedir que as urgências aconteçam é fazer aquilo que é importante, que é estratégico, e que vai ter resultados no longo prazo. Deixar para amanhã o que precisa ser feito é garantir a ocorrência de mais prejuízos e situações de emergência.

Estamos em um ano eleitoral, apesar do pleito não ser para a esfera municipal, mas é fundamental ter a consciência de escolher as pessoas que, mesmo com todas as dificuldades, estão dispostas a trabalhar para fazer o que é importante, o que ficará como legado, e não apenas implementar soluções provisórias que, muitas vezes, acabam se tornando novos problemas.

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