Memória

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Em 2019 escrevi um editorial com esse mesmo título “Memória”, mas o contexto que vivíamos na época era completamente diferente. Lá, eu lamentava uma única morte, a do advogado lapeano Dr. João de Sá. Hoje nesse espaço não seria fisicamente possível citar os nomes de todas as vidas perdidas por causa da pandemia. Isso considerando apenas a Lapa. Acredito que hoje não exista mais ninguém que não conheça alguém que partiu nessa terrível crise.

Falei também sobre a nossa missão semanal de registrar os acontecimentos da região, preservando histórias que valem a pena ser contadas. As coisas continuam acontecendo, não com a mesma dinamicidade de antes, mas continuam, e seguimos com o nosso papel de documentá-las. Por outro lado, coisas que deveriam andar, não andam, caso das obras com dinheiro já disponível para uso da Operação Urbana Consorciada Água Branca. E temos ainda o fato da Prefeitura querer dar andamento à revisão do Plano Diretor Estratégico (PDE), mesmo com a forte sinalização de organizações da sociedade civil de que realizar a revisão agora, durante a pandemia, irá prejudicar a participação. Esses dois exemplos de descompasso continuam.

Voltando ao tema memória, temos duas matérias nesta edição diretamente relacionadas a ela: o aniversário de um morador que apesar de não ter nascido aqui, fez sua vida e criou sua família na região, e o aniversário da Casa Amarela, primeiro imóvel da Vila Romana, o que é tanto um marco histórico como afetivo, já que a residência na Rua Camilo acolheu muitas pessoas que chegaram ao Brasil para fazer desse país o seu lar. Em meio à crescente especulação imobiliária e verticalização, poder cruzar com um símbolo do passado bem preservado é um privilégio.

É bom dar um respiro em meio a tantas notícias ruins. Celebrar a vida que permanece e persiste mesmo com tantas dificuldades. Que toda essa pandemia ficará em nossa memória, não há dúvidas, mas precisamos também nos apegar às coisas boas. Como a solidariedade de pessoas e entidades que já se mobilizam para ajudar quem mais precisa ou o trabalho voluntário de quem integra os conselhos comunitários da região, como os Consegs. Precisamos valorizar as pessoas que usam seu tempo e energia para esse tipo de dedicação.

Trabalhar por melhorias em nosso entorno e ser gentil com as pessoas com quem convivemos é a melhor forma de honrar os sonhos e a memória de todas as vidas perdidas para a Covid-19. Nós que ficamos temos o dever de fazer isso.

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